Por Pedro Galindo
O futebol tem uma irremediável vocação à democracia. Ele não aceita restrições de classe, sexo ou cor. Nem mesmo a mais grave deficiência é capaz de impedir a prática do esporte – que o digam os heróis brasileiros do futebol de cinco. Inventado por jovens aristocratas ingleses, o futebol ganhou o mundo, se tornando o esporte preferido das mais diferentes culturas. Uma paixão de regras simples e baixo custo: perfeita para o gosto do brasileiro. Exatamente como o carnaval, aquele sonho que, ano após ano, iguala todos nós em foliões e aproxima ao máximo nossa democracia de papel da realidade prática.
O alvirrubro, por exemplo, é pioneiro no carnaval pernambucano: em 1934 saiu o bloco Timbu Coroado, cujo hino, composto pelo maestro Nelson Ferreira, até hoje é tão popular que, por muitas vezes, chega a ser confundido com o hino do próprio Náutico. O maestro criou ainda o memorável frevo “Moreninha”, em homenagem ao Sport. Muitos ainda hoje acreditam, equivocadamente, ser este o hino do clube cujos maiores títulos – queiram ou não queiram os juízes – são sempre comemorados ao som da clássica “Madeira de lei que cupim não rói”. O Tricolor do Arruda tinha originalmente como hino um frevo composto pelos irmãos Valença, mas posteriormente, a própria torcida adotou a famosíssima “O Mais Querido”, do mestre Capiba, que até hoje é entoada nas arquibancadas, com grande euforia, pelos torcedores corais.
Em Pernambuco, frevo significa carnaval. E talvez esta seja uma das razões para a grande presença de público nos estádios, que sofre com o descompasso de seus clubes, mas que comemora cada gol com o êxtase de uma troça tocando as primeiras notas de “Vassourinhas”. Por mais que o desempenho de seus clubes esteja bem próximo do sobe-e-desce do carnaval de Olinda, a paixão dos pernambucanos pelo futebol não é de se espantar: é apenas mais um traço de um povo cujo orgulho e autenticidade residem justamente no amor pela liberdade. Que, em Pernambuco, é sinônimo de carnaval. E de frevo, é claro.
Gostei.