Muitos olham para a Série B atual e quando veem o Criciúma brigando por título se surpreendem com a campanha, já que desde 2004 a equipe não joga a Série A e nesse período de oito anos chegou a jogar a Série C. Mas não é dessa equipe que vamos falar, é da equipe que surpreendeu o país no começo dos a
O ano é 1991: a equipe do Criciúma é mais uma vez favorita ao título estadual (vinha de um bi campeonato), mas a torcida ainda tem na memória o fracasso na Série B em 90, quando a equipe fez grandes jogos e na última fase antes da final deixou o acesso escapar (o beneficiado foi o CAP). E, novamente, a decepção vem: no Brasileiro da Série B, a equipe é eliminada na 1º fase. A equipe de Luiz Felipe Scolari sofre grande pressão da torcida, pressão que não é atenuada nem após o time eliminar o Atlético Mineiro e avançar às quartas-de-final da Copa do Brasil.
Nas quartas-de-final, a equipe catarinense enfrenta o Goiás, tradicional equipe do Centro-Oeste do Brasil e que vem de um vice na edição da Copa do Brasil anterior. Além de bem mais rodada, a equipe goiana disputava a Série A do Brasileiro desde 1981 (exceção feita ao imbróglio de 87). No jogo de ida, no Serra Dourada, empate em 0x0. Na volta, um Heriberto Hulse lotado vê Gelson, Jairo Lenzi e Grizzo fazerem 3×0 para os donos da casa e a equipe avançar até a semifinal.
Na semifinal, o adversário é o Remo e sua fanática torcida, além do calor paraense, que cobraria um preço para a equipe catarinense. Mas faltando poucas horas para o jogo, desaba uma chuva torrencial no estádio e o clima fica mais favorável para a equipe de Felipão. O time vence por 1×0 e, na volta, faz 2×0, sem sustos. É a primeira participação de uma equipe de Santa Catarina na final da Copa do Brasil. O oponente dessa vez é o Grêmio, que encara aquela final como chance de um recomeço, pois a equipe gaúcha acaba de ser rebaixada para a Série B do Brasileiro.*
Na primeira partida, 32 mil pessoas vão ao Olímpico e veêm um empate em 1×1. A equipe do Grêmio começa pressionando o Criciúma, criando várias situações, mas não marca. Até que, pouco antes dos 15 minutos, Jairo Lenzi – herói da conquista – cobra escanteio fechado e o zagueiro Vilmar testa com estilo. Grêmio 0x1 Criciúma. A equipe gaúcha segue pressionando, mas o placar não se altera mais no primeiro tempo. Na volta do intervalo, o Grêmio continuou em cima, mas o Criciúma teve boas chances de ampliar, até que, aos 37 minutos, Marcio Rezende de Freitas apita uma penalidade que gera bastante reclamação da equipe catarinense. Maurício (ex-Botafogo) vai para a bola e dá números finais ao jogo.
No jogo da volta (num domingo), Heriberto Hulse lotado para a final, com mais de 20 mil pagantes. Numa partida truncada e de poucas chances – as melhores do Criciúma, inclusive uma trave – o Criciúma sabe jogar com o regulamento embaixo do braço e garantir o título inédito. O Criciúma é Campeão da Copa do Brasil 1991. Felipão deixa o clube após a conquista, mas a equipe ainda conquista o título estadual de 1991, garantindo o tricampeonato.
No ano de 1992, a esperança mais uma vez estava numa volta à Série A do Brasileiro. No começo de fevereiro**, começa a disputa da Série B e a equipe consegue bons resultados, avançando na competição. Em março, a equipe faz sua estreia na Taça Libertadores da América. E que estreia! Sem tomar conhecimento do São Paulo de Telê Santana – Campeão Brasileiro em 91 – o Tigre aplica um sonoro 3×0, com grande atuação de Jairo Lenzi. Telê Santana poupou Cafu e Raí para essa partida, talvez pensando em vitória tranquila.
Durante a fase de grupos, a equipe ainda vence o San José-BOL fora e dentro de casa, empata com o Bolivar-BOL, fora, e vence em casa, mas toma um passeio do São Paulo no Morumbi, 4×0. Mesmo com a acachapante goleada, os comandados de Levir Culpi conseguem avançar em 1º lugar na chave. Nas oitavas-de-final, contra o Sporting Cristal-PER, classificação tranquila, com duas vitórias, 2×1 fora de casa e 3×2 no Heriberto Hulse. E então vêm as quartas-de-final.
Em virtude do regulamento da Libertadores, não era permitido que mais de uma equipe por país disputasse uma semifinal. Então São Paulo e Criciúma se viram obrigados a jogar entre si nas quartas de final. No primeiro jogo, truncado, o primeiro tempo termina 0x0, sem grandes chances de lado a lado. No segundo tempo, a tônica da partida se mantém, até que o Criciúma tem Itá expulso de campo e passa apenas a se defender. O São Paulo pressiona de forma desordenada, até que Macedo – que começou no banco – acerta belo chute da entrada da área e dá números finais ao placar. Apenas 12.241 pagantes viram o jogo no Morumbi (http://
).
No jogo de volta, mais de 20 mil pessoas viram Soares – de volta à equipe – receber cruzamento de Jairo Lenzi e abrir o placar ainda antes dos 10 minutos. Primeiro tempo corrido, chances de gol de lado a lado, bola na trave das duas equipes, mas o placar se mantém. Na volta do intervalo, o São Paulo volta pressionando e aos sete minutos empata. Após boa troca de passes, Palhinha recebe dentro da área, domina no peito e fuzila Alexandre. Após sofrer o empate, o Criciúma passa a pressionar o São Paulo e cria várias chances para fazer o segundo gol, mas não consegue. Classificação do São Paulo para a semifinal da Taça Libertadores. O time de Santa Catarina ainda tinha a disputa da Série B, na qual avançou até as semi finais, sendo eliminado pelo Vitória. Devido ao imbróglio da mudança de regulamento – que não temos a intenção de discutir nessa postagem – o Tigre voltaria a Série A.
Por questões de regulamento, o Criciúma não conseguiu o tetracampeonato estadual, mesmo após conquistar todos os turnos do campeonato. Uma derrota para o Avaí nas quartas-de-final da segunda fase encerrou a luta pelo tetra. Era o fim da equipe mais vencedora da história do futebol de Santa Catarina.
Time base: Alexandre, Sarandi (Jairo Santos), Vilmar, Altair (Vilsão) e Itá; Gélson, Grizzo, Roberto Cavalo; Soares, Jairo Lenzi, Roberto (Vanderlei).
Treinadores no período: Luiz Felipe Scolari e Levir Culpi.
*A partida que rebaixou o Grêmio foi disputada no dia 18/5/91 e o primeiro jogo da final da Copa do Brasil foi disputado no dia 30 do mesmo mês;
**O Campeonato Brasileiro das Séries A e B foi disputado no primeiro semestre nos anos de 91 e 92. Em 93, a disputa voltou a ser no segundo semestre.