É comum e compreensível que a Europa Ocidental e a América sejam os lugares com mais destaque na nossa página. A Europa Ocidental por ser a localidade com os times mais ricos do mundo e também por ter todos os maiores jogadores do mundo atuando em suas ligas. A América do Sul, por causa do grande interesse de torcedores brasileiros pelas equi
Temos um time de craques que fala sobre aquele clube ucraniano de nome estranho com a mesma propriedade com a qual versa sobre o Real Madrid ou o Barcelona.”
E temos, na medida do possível, mantido essa promessa. A coluna “Mama África” a cada semana traz uma história sobre o continente mais esquecido na história do esporte (como esquecido em todo o resto). O excelente Rogério Bibiano – que assina a coluna sobre a África – também se preocupa em acompanhar os clubes e seleções do continente na atualidade, assim como faz com a Ásia e o Oriente Médio. Cobrimos quase todo o Planeta Bola com pelo menos uma coluna semanal. Tem bola rolando, estamos lá pra metermos o bedelho e darmos nosso pitaco. Mas uma localidade em especial merece nossa atenção: o pedaço de terra que começa na fronteira Alemanha/Polônia e R.Tcheca e vai até o norte do Oceano Pacífico, passando por Rússia, Turquia, Repúblicas do Báltico, ex-Repúblicas Soviéticas, Bálcãs, enfim, todo o pedaço de chão que não tem o glamour da Europa Ocidental e suas maiores ligas, mas que tem quase tanta história pra contar e quase tantos talentos natos como o resto da Europa.
Faremos uma matéria semanal sobre a região, com a temática variando entre uma equipe histórica, um jogador histórico, mas também dando atenção ao que acontece na atualidade, seja em nível de clubes, seja de seleções.
Senhoras e senhores, sejam bem vindos ao Centro/Leste da Europa. Ou, como costumamos falar na DpF no Orkut, “a área dos pseudos”.
A Croácia da Euro 96 – A Primeira Competição da Equipe.
Não poderíamos começar nossa viagem por outra localidade que não fosse o ponto de maior destaque da região nos últimos 20 anos: a Croácia do fim dos anos 90, mais precisamente a campanha do time até a Euro de 96.
Não é nossa intenção nos aprofundarmos na História dos Bálcãs, um dos lugares mais conflituosos e problemáticos do planeta, localidade que foi palco, em 1914, do primeiro tiro de uma nova forma de se fazer guerra, sendo a mesma localidade palco de uma das maiores limpezas étnicas da história da humanidade 80 anos depois. O que importa pra nós é que, em parte por causa dessa limpeza étnica, surgiu um dos times mais encantadores dos últimos 20 anos.
O ano é 1990. Após 45 anos sob o domínio iugoslavo, a Croácia se torna independente, na política e no futebol (no futebol ainda antes da política). No dia 17/10/1990, a Croácia faz sua primeira partida oficial no futebol, contra os EUA, vencendo por 2×1. O país só se tornaria completamente independente politicamente no ano seguinte, no dia 8 de Outubro.
Em 93, a equipe se filia à FIFA e à UEFA, para disputar as Eliminatórias para a Copa do Mundo dos EUA. Mas devido à guerra contra a Iugoslávia, não disputa a competição Nos EUA. Em Setembro de 94, o time faz sua estreia pelas Eliminatórias para a Euro 96, batendo a Estônia, com 2 gols daquele que seria o jogador mais comentado do país nos próximos 2 anos: Davor Suker. A equipe vai ganhando consistência – inclusive batendo a Itália fora de casa – , chamando a atenção do mundo e levando alegria para uma região destruída pela guerra.
O time fez 10 jogos pelas Eliminatórias, venceu sete e garantiu a vaga em primeiro lugar, deixando a tradicional Itália em segundo. Suker anotou 12 gols na campanha e esses gols, aliados à sua boa performance pelo Sevilla – ESP, o transformaram numa estrela do futebol europeu. O time croata ainda contava com outros bons valores, entre eles Zvonimir Boban, estrela do Milan, Robert Prosinecki, ídolo do Estrela Vermelha campeão da Champions 90/91 e Alen Boksic, ídolo da Lazio.
Na Euro 96, a Croácia caiu no grupo de Portugal, Dinamarca e Turquia, vencendo os 2 primeiros jogos, contra dinamarqueses e turcos. Contra a Turquia, na estreia, uma vitória magra, por 1×0, gol de Suker. Na segunda rodada, contra a Dinamarca, um baile: 3×0, gols de Suker (2) e Boban.
Contra Portugal, na última rodada, um erro de estratégia custou a primeira colocação. Os croatas tinham seis pontos, contra quatro dos portugueses. Pensando no mata mata, o treinador Miroslav Blazevic deixou Boban e Suker no banco, além de não ter Boksic, machucado desde a partida de estreia. Portugal venceu por 3×0 e nem a entrada de Suker e Boban após o intervalo ajudaram os croatas.
Com a derrota, a Croácia terminou em segundo no grupo e teve que encarar a Alemanha. A Alemanha abriu o placar com um gol de Klinsmann cobrando penalidade, ainda antes da metade do primeiro tempo. No começo do segundo tempo, a Croácia empatou, com Suker. Mas um cartão vermelho para Stimac cinco minutos após o empate colocou tudo a perder. Três minutos após a expulsão, Mathias Sammer fez o segundo gol da Alemanha. Com um jogador a menos e sem poder contar com Boksic e Prosinecki (ambos machucados), os croatas não tiveram como empatar o jogo e foram eliminados. Mas a equipe da camisa quadriculada chamou a atenção do mundo. Os Bálcãs tinham os olhos do mundo novamente sobre eles, mas dessa vez por um bom motivo. Mal sabia o mundo que, dois anos depois, o ‘’tabuleiro de xadrez’’ chegaria ainda mais longe. Mas isso é história pra outra coluna.