Além de feitos envolvendo o futebol, Aboutrika é embaixador de um programa voluntário das Nações Unidas contra a fome. Em 2008, ele recebeu cartão amarelo em uma partida contra a seleção do Sudão por ter levantado sua camisa e ter outra por baixo com os dizeres: “Simpatizem com Gaza”.
Infelizmente, até os mais bondosos passam por situações terríveis. Durante a confusão causada na Tragédia de Port Said, um adolescente de 14 anos, fã de Aboutrika, acabou morrendo nos braços do seu herói, ainda dentro do vestiário do Al-Ahly, local para onde ele foi levado pelo seu ídolo, que estava tentando salvá-lo. O último rosto que o garoto viu era do seu maior herói.
Após isso, Aboutrika comunicou a Federação Egípcia para que o campeonato fosse suspenso até que a segurança em campo fosse restabelecida. Semanas depois, ele não deu nenhuma entrevista à imprensa. Apenas aparecia publicamente quando estava nos funerais das vítimas do acidente. Além disso, Aboutrika ofereceu sua casa para que os mais necessitados, que estavam envolvidos com o acidente, pudessem ficar sob seus cuidados.
Quando a situação melhorou, Aboutrika retornou ao futebol para ajudar o Al-Ahly na Liga dos Campeões da África e a seleção egípcia, tanto nas Olimpíadas quanto nas qualificatórias pra Copa de 2014. Aliás, este é o seu maior sonho: levar o Egito para a Copa de 2014 no Brasil. Porém, o futebol em si não é o maior ideal dele. Em setembro, Aboutrika teve que escolher entre jogar a Supercopa do Egito ou protestar com os Ultras Egípcios para que eles não tivessem nenhum jogo nacional enquanto as famílias da Tragédia de Port Said não recebessem ajuda do governo. E ele não pensou duas vezes: foi protestar com o seu povo.
Depois de conquistar uma vaga na semifinal do Mundial, Aboutrika disse à imprensa que a meta do Al-Ahly não é ganhar, mas sim divertir um povo que não assiste o futebol nacional desde fevereiro. E diferente de outros jogadores africanos, Aboutrika nunca jogou em uma liga europeia e muito menos centralizou sua carreira buscando um enorme salário. Ele apenas quer trazer alegria para o povo africano, vendo no Mundial de Clubes e na próxima Copa do Mundo como suas maiores chances de alcançar seu objetivo.
Créditos: Firdose Moonda, jornalista sul-africana, correspondente da ESPN britânica na África.