O líbero provavelmente é a posição tática mais complexa dentre todas as outras. E provavelmente por tal complexidade, é muito comum as pessoas – muitas vezes até treinadores – não saberem explicar exatamente a sua real função.
Líbero, em italiano, significa “livre”. Muito diferente do que muitos pensam, o líbero não é apenas um terceiro zagueiro, que joga centralizado, na sobra.
O MAIOR DOS LÍBEROS: KAISER
Franz Beckenbauer, o maior líbero da história do futebol, foi o grande exemplo do que um jogador pode fazer nesta posição. Na Alemanha de 74, jogava atrás de uma linha de 3 defensores, composta por Vogts, Schwarzenbeck e Breitner.
O Kaiser, como era conhecido, era um defensor quando o time estava sem a posse de bola. Com ela, se tornava um autêntico meia. Tinha a liberdade de avançar, ocupando todos os espaços do meio-campo, tanto na volância quanto como meia-armador, auxiliando a dupla Hoeness e Overath na construção das jogadas e até nas finalizações.
Apesar de ser uma tarefa muito desgastante, Beckenbauer a exerceu com maestria e foi o grande destaque alemão daquele que foi o segundo título germânico em Copas.
ITALIANOS REINVENTAM A POSIÇÃO
Lenda da Juventus, Scirea foi outro jogador que executou a função de líbero de maneira excelente, conquistando a Copa de 82. O italiano se destacava mais por sua força defensiva. Porém, obtinha ótima qualidade na saída de bola.
Pouco depois, no Milan, outra lenda começava a ganhar destaque. Franco Baresi é tido por muitos como um dos maiores defensores da história do futebol. Jogando atrás de uma linha de quatro defensores, composta por Tassotti, Galli, Costacurta e Maldini, o eterno camisa 6 do Milan se destacava muito mais pela parte defensiva, apesar de ter qualidade com a bola nos pés. Não armava o jogo como Beckenbauer, mas sua presença defensiva mais firme liberava os alas para avançarem com mais facilidade.
NA TERRA DA RAINHA E NA TERRA DO SAMBA
O sucesso dos italianos fizeram com que o líbero virasse febre nos anos 90. Entretanto, poucos tiveram êxito. A Inglaterra da Copa de 90 mudou o tradicional esquema 4-4-2 para o 3-5-2, colocando Mark Wright para desempenhar a função. Deu certo, pois os ingleses caíram apenas nas semifinais, nos pênaltis.
O Brasil também usou três zagueiros na Copa de 90, quando o técnico Sebastião Lazaroni usou Mauro Galvão como líbero. Mas não funcionou tão bem quanto esperado. Depois desta experiência, criou-se a ideia no Brasil de que o líbero é um zagueiro a mais, pois em vários clubes começaram a implantar três defensores fixos, chamando o central deles erroneamente de líbero.
MATTHÄUS E SAMMER: LÍBEROS ORIGINAIS
Na metade dos anos 90, um líbero teve um destaque gigantesco no futebol europeu: Mathias Sammer era o dono da bola, tanto na seleção quanto no Borussia Dortmund (campeão europeu em 96 pela Alemanha e em 97 pelo Dortmund). Executando a função como nas origens com Beckenbauer, Sammer corria todo o campo, era um zagueiro de imensa qualidade, finalizava tão bem quanto e armava o jogo com eficiência. Ganhou a Bola de Ouro em 1996.
Praticamente ao mesmo tempo, Matthäus, então um dos melhores meias armadores do mundo, voltava ao Bayern de Munique e foi reinventado para jogar de líbero. Não decepcionou. Misturando sua qualidade na armação com seu talento nos desarmes, Matthäus voltou a jogar em altíssimo nível após um grande período de lesões e foi finalista da Liga dos Campeões jogando assim, em 1999.
DIAS ATUAIS
Hoje em dia, muitos vêem a função de líbero apenas como um zagueiro central, na sobra, mais parecido com o que foi Baresi (porém, sem a qualidade do italiano). Poucas vezes vimos um real líbero. Talvez quem tenha chegado mais perto disso foi Alessandro Nesta na Itália de 2002 a 2004, e Sergio Busquets no Barcelona, muitas vezes escalado mais recuado do que um volante tradicional.