Um dos assuntos mais polêmicos do futebol é a realidade das torcidas organizadas. Capazes de despertar todo tipo de sentimento, as TO’s têm o poder de levar um jogo ao ápice, com um show direto das arquibancadas, ou ao declínio, como no caso da Gaviões da Fiel e do menino Kevin. Via de regra, a discussão em relação às torcidas se limita a argumentos inconsistentes. De modo geral, quem topa debater o assunto no cotidiano já tem opinião formada – ou é radicalmente contra ou é integrante/simpatizante de uma organizada. A regulamentação, contudo, é o que pode salvar esse elemento do futebol.
Se alguém disser que torcidas organizadas não fazem diferença nos jogos, desconfie: tal sujeito nunca pisou em um estádio de futebol. É uma grande utopia pensar que o espetáculo das arquibancadas não depende de uma liderança que reja o sistema. Assim como qualquer tipo de manifestação sem comando, é impraticável do ponto de vista econômico e organizacional.
Podemos lembrar de casos reais. As torcidas do estado do Paraná, por exemplo, sempre se movimentaram pelas causas dos times – do lado rubro-negro, os mosaicos; do lado alviverde, o Green Hell. No caso do Atlético, inclusive, a comemoração se tornou tão popular que patrocinadores do clube já apoiaram o manifesto. No Coritiba, o inferno verde já arrecadou milhares de reais, doados pela torcida através de sites colaborativos.

Foto: Andre Raittz / Torcida do Coritiba promoveu o Green Hell em 2009
Festas das arquibancadas promovidas pela torcida. Em ambos os casos, a torcida participou do processo como indivíduo, não como instituição. Mesmo assim, ninguém é louco de dizer que não foram torcidas organizadas que criaram o show. Sim, foram torcidas organizadas, porém não institucionalizadas.
O conceito de torcida organizada que se tem hoje é preguiçoso; é sempre o de uma entidade que acoberta a criminalidade e que esconde, com as cores do time, rostos de bandidos. Mas a torcida organizada mesmo é a que promove a identidade entre o torcedor e o clube; a que cria gritos no estádio, a que incentiva o clube a todo momento, mas cobra, de forma civilizada, quando necessário. E por que essa torcida não pode ser, então, organizada dentro dos parâmetros legais e trabalhar em parceria com as equipes? A resposta é simples: porque a fiscalização e o cumprimento das leis que asseguram a integridade do próprio torcedor ainda são precários no país do futebol.

Foto: Joka Madruga / O mosaico promovido pela torcida do Atlético-PR é tradição das arquibancadas rubro-negras
Demonizar as torcidas organizadas é muito fácil. Poucos têm interesse em repensar o modo de torcer, mas essa é a única solução para os problemas deste elemento dos estádios. Enquanto a nomenclatura de organizada não for formulada de modo positivo, os criminosos continuarão a vestir a camisa de nossas equipes. A situação, contudo, é mais grave do que se imagina. Afinal, como cobrar a mudança de pensamento e a regulamentação das torcidas no futebol brasileiro, sendo que a entidade máxima da paixão nacional precisa passar pelo mesmo processo?
(Este texto foi originalmente publicado no blog Entrando no Jogo)