Na última temporada, um modesto time francês surpreendeu muita gente – não só na França, mas no mundo todo – ao bater os favoritos e levantar o caneco da Ligue1 pela primeira vez na história. O Montpellier superou todas as expectativas e encarou adversários de nomes, como o tradicional Lyon, o Lille em ascensão e o já bilionário Paris-Saint Germain. E, mesmo tendo o 13º maior orçamento da temporada, com 36M de euros, o MHSC não tomou conhecimento de ninguém e sagrou-se campeão. Só para efeito de comparação, o PSG tinha 150M de euros para serem gastos na temporada e ainda assim não conseguiu pará-los.
É importante dizer que o Montpellier tinha quatro pilares de sustentação para que tudo isso ocorresse da melhor maneira possível. Talvez, tirando o treinador, são nomes que, até pouco tempo atrás, ninguém conhecia, nem mesmo os grandes admiradores de futebol francês. Isso se deve ao fato de que, em 2009, o Montpellier ainda disputava a segunda divisão do campeonato na França, a popular Ligue2. O planejamento para se reerguer foi fundamental, e existem pessoas que podem ser, diretamente, responsabilizadas por isso.
Esses pilares parecem algo muito bem montado pelo polêmico – porém competente – presidente Louis Nicollin (sim, aquele mesmo que pintou o cabelo de azul, após o título francês no ano passado, vide foto abaixo). Para reorganizar sua volta à elite, Nicollin tratou logo de contratar René Girard, um ex-jogador e experiente treinador que havia passado pelas categorias de base da Seleção Francesa. Girard chegou com a missão de colocar ordem na casa e planejar a ascensão do MHSC. Ele era o primeiro, e já conhecido, pilar.
Juntamente com ele, outros três jogadores – estes sim, anônimos – foram fundamentais para ótima campanha do Montpellier, não só no retorno para a Ligue1, como também na conquista do último titulo. E são os outros pilares que faltavam: o zagueiro Mapou Yanga-Mbiwa, o meia Younès Belhanda e o centroavante Olivier Giroud. Definitivamente eram os três nomes mais importantes do time.
Acontece que, até mesmo por questões financeiras, o Montpellier se viu obrigado a bater uma marreta nessas sustentações e acabou derrubando-as. A começar por Giroud. O jogador, antes mesmo de começar a atual temporada, deixou o clube e acertou com o Arsenal, da Inglaterra. Uma transferência que deixou um buraco enorme no ataque do MHSC, já que Charbonnier e Herrera, dois contratados para suprir a ausência de Giroud, até hoje não conseguiram se firmar entre os titulares.
Sentindo a falta de seu principal atacante e já com um time semi baqueado, o Montpellier não aguentou a pressão de disputar a Liga dos Campeões a acabou por fazer uma campanha vexaminosa. Somou somente dois pontos em um grupo que tinha Schalke04, Arsenal e Olympiacos. Deu adeus precocemente à competição e isso influenciou diretamente em duas situações: a saúde orçamentária para o resto da temporada e a crise na própria Ligue1. A eliminação abalou diretamente o psicológico de todo o time, que não conseguia vencer na mesma competição que havia conquistado recentemente com todos os méritos possíveis.
Depois disso, já no mercado de inverno deste ano, o segundo pilar a ser desmontado foi o zagueiro Yanga-Mbiwa. Ele se transferiu também para a Inglaterra, mas não para o Arsenal e sim para o Newcastle. Apesar de ser um grande zagueiro e um jogador essencial para a campanha da última temporada, após a saída de Mbiwa, o seu companheiro de zaga, o brasileiro Vitorino Hilton, cresceu muito de produção e até vem dando conta do recado na zaga do time, ao lado do, agora titular, Abdelhamid El Kaoutari, cria da casa.
Atualmente, ainda restam dois pilares no time: o treinador, René Girard, e o craque do elenco, Younès Belhanda. Contudo, recentes declarações de ambos deixam a entender que esses pés que ainda sustentam o MHSC não continuarão para a próxima temporada. O marroquino Belhanda já teve propostas em janeiro, mas preferiu não sair por enquanto. Fenerbahçe, da Turquia, e Internazionale, da Itália, foram os times que se interessaram pelo jogador, que foi enfático recentemente: “Jogarei em um grande time da Europa na próxima temporada”. O cérebro do Montpellier definitivamente não continuará no grupo.
Agora, na semana passada, foi a vez de René Girard dizer que não fica. Ao que tudo indica, o professor teve algumas discordâncias políticas com o presidente Louis Nicollin e buscará novos rumos em breve. E é bom os torcedores do MHSC começarem a ligar a luz amarela. Os dois nomes mais indicados a assumirem o chapéu de treinador do time são os do polêmico e contestado Raymond Domenech (que foi responsável direto pelo papelão da Seleção Francesa na Copa de 2010) e de Diego Armando Maradona (que como jogador foi incontestável, mas como técnico nunca se justificou).
É complicado fazer exercício de futurologia e descobrir o que será do Montpellier para as próximas temporadas. É interessante ressaltar que o clube segue investindo nas suas categorias de bases e novos ótimos jogadores podem continuar aparecendo. Por lá, Benjamin Stambouli, Rémy Cabella, Karim Aït-Fana e o próprio Abdelhamid El Kaoutari podem, em breve, assumir a postura de protagonistas. Porém, dificilmente conseguirão conquistar algo que Belhanda e sua turma fizeram nas recentes temporadas.
Na competição vigente, o Montpellier vem tentando ganhar uma sobrevida após realizar um péssimo primeiro turno. Somando 44 pontos, o time atualmente é o 6º colocado e vem galgando espaços entre os grandes. Somente cinco pontos o separam da posição que classifica um time para a Liga dos Campeões novamente. É difícil alcançar essa terceira colocação, mas nada é impossível para esse time que já conseguiu surpreender uma vez. Não seria estranho se fizesse isso novamente, mesmo em processo de desmonte.
Contudo, baseado até um pensamento cético, o caminho natural de um time médio em ascensão parece ter chegado ao MHSC. Vender sua tropa de elite seria questão de tempo. Resta Louis Nicollin ter a sabedoria de conseguir remontar suas peças e construir novos pilares. Mas, sinceramente, nomes como Domenech e Maradona não seriam os melhores “engenheiros” para chefiarem essa restruturação de plantel.
Compilação de lances de habilidade envolvendo a dupla Olivier Giroud e Younès Belhanda