Neste sábado, a bola rolará pela quarta final de Liga dos Campeões entre clubes conterrâneos, a primeira entre dois alemães. Uma curiosidade é que os dois times envolvidos já conquistaram o torneio sob comando do segundo de apenas três treinadores campeões da taça por dois times diferentes: Ottmar Hitzfeld. Além dele, Ernst Happel – Feyenoord em 1969/70 e Hamburgo em 1982/83 – e José Mourinho – Porto em 2003/04 e Internazionale em 2009/10 – integram a lista, e Jupp Heynckes, atual técnico do Bayern de Munique e campeão com o Real Madrid em 1997/98, brigará amanhã para se juntar ao seleto grupo. Hitzfeld levou o Borussia Dortmund ao título na temporada 1996/97 e venceu com o Bayern a edição de 2000/01. Aqui, falaremos um pouco mais sobre sua carreira no futebol.
A carreira como jogador
Nascido em 12 de Janeiro de 1949 em Lörrach, Alemanha Ocidental, Hitzfeld começou a jogar futebol ainda em 1960, pelo TuS Stetten. Ficou no clube até 1967, quando se transferiu para o maior time da cidade, o FC Lörrach. Atacante de boa qualidade na hora de definir as jogadas, chamou a atenção do Basel, que o contratou na temporada 1971/72. Ficou no clube suíço até 1975, sendo campeão de duas Ligas e uma Copa da Suíça. Após sair do Basel, transferiu-se para o Stuttgart, que defendeu por três anos, sem tanto sucesso. Voltou para a Suíça, dessa vez para defender o Lugano. Ficou duas temporadas no clube e rumou para o Luzern, onde encerrou a carreira de jogador, em 1983. Pela Alemanha, apenas seis jogos e cinco gols, durante as Olimpíadas de 1972, quando a equipe caiu na segunda fase.
O início como treinador
Logo após encerrar a carreira de jogador, Hitzfeld assumiu o FC Zug, pequeno clube da Suíça. Foram 32 jogos e 17 vitórias, 9 empates e 6 derrotas na temporada 1983/84. A equipe não conquistou qualquer título ou acesso no futebol suíço, mas o trabalho do treinador chamou a atenção do FC Aarau, que o contratou para a temporada seguinte. Permaneceu à frente do time por 142 jogos e conquistou o título da Copa da Suíça logo na temporada de estreia. Na Liga, a equipe terminou na segunda posição, apenas quatro pontos atrás do campeão Servette. Considerando que na edição anterior o Aarau foi apenas o décimo, foi notória a evolução do time após a chegada de Hitzfeld. Nas duas temporadas seguintes, as coisas não correram tão bem e o time terminou apenas no meio da tabela. No último período do técnico à frente do Aarau, o time terminou em quarto lugar, 6 pontos atrás do campeão Neuchâtel Xamax. Hitzfeld deixou o comando da equipe e rumou para o Grasshopper, o clube mais vencedor do futebol suíço.
A passagem pelo Grasshopper e afirmação como grande treinador
No Grasshopper, Hitzfeld ficou por três temporadas: 1988/89, 1989/90 e 1990/91. Em 1988/1989, suas antigas equipes estiveram em seu caminho nas duas competições que disputou: o Grasshopper perdeu a Liga por apenas um ponto para o FC Lucerne e venceu a Copa da Suíça em decisão contra o Aarau. Na segunda temporada sob o comando do treinador, o time dominou o futebol no país, vencendo Copa e Liga da Suíça. Era o primeiro título de Liga do Grasshopper desde 1983/84. Na terceira temporada, novo título da Liga, quarto troféu da equipe em três temporadas. Tal trabalho não passou despercebido pelas equipes de maiores centros e Hitzfeld foi chamado para comandar o Borussia Dortmund, da Alemanha.
O Borussia Dortmund
No começo da temporada 1991/92, Ottmar Hitzfeld chegou ao Borussia, seu primeiro trabalho na Alemanha desde a passagem como jogador pelo Stuttgart na segunda metade dos anos 70. O time do vale do Ruhr vinha de campanhas apenas razoáveis na Bundesliga, sempre longe de título. Mas, já na temporada de estreia, Hitzfeld levou o time ao vice-campeonato. Apesar da nítida evolução, a posição foi amarga, dada a forma como aconteceu. Eintracht Frankfurt, Stuttgart e Borussia chegaram à última rodada empatados em pontos, mas aquele tinha o maior saldo de gols, enquanto o Borussia tinha o menor. Os três viajaram para jogar a última rodada: o Eintracht contra o desesperado Hansa Rostock, o Borussia contra o Duisburg e o Stuttgart contra o Leverkusen, que brigava por uma vaga na Copa da UEFA.
O Borussia abriu o placar logo no começo da partida, com Chapuisat, e momentaneamente assumiu a ponta, já que os rivais apenas empatavam. Pouco antes da metade do primeiro tempo, o Leverkusen abriu o placar contra o Stuttgart, mas a equipe do sul da Alemanha chegou ao empate ainda antes do fim do primeiro tempo. Os jogos chegaram ao intervalo com os seguintes placares:
Duisburg 0x1 Borussia Dortmund
Bayer Leverkusen 1×1 Stuttgart
Hansa Rostock 0x0 Eintracht Frankfurt
A situação seguiu inalterada até pouco antes da metade da etapa complementar, quando o Hansa Rostock abriu o placar. Três minutos depois, o Eintracht empatou o jogo e precisava de apenas mais um gol para ser campeão pelo critério do saldo de gols. O Borussia mantinha a vantagem sobre o Duisburg e passou todo o segundo tempo perto do título. Mas Guido Buchwald desempatou para o Stuttgart aos 43 minutos do segundo tempo. O Eintracht ainda tomou o segundo gol do Hansa aos 45 minutos, terminando apenas em terceiro. O resultado foi doloroso para o Borussia e sua torcida, que passaram praticamente toda a rodada com a mão na taça, mas foi o prenúncio de dias melhores para a equipe.
Na temporada seguinte, o time se manteve na briga pelo título da Bundesliga até a 31º rodada, quando tomou 4×0 do Stuttgart em casa e deu adeus às chances de título. Pela Copa da UEFA, a equipe passou por Floriana – MAL, Celtic, Zaragoza, Roma e Auxerre, e chegou à decisão, contra a Juventus. Os comandados de Hitzfeld não ofereceram resistência e foram derrotados nos dois jogos da final. Curiosamente, o último gol do confronto foi marcado por Andreas Möller, futuro ídolo aurinegro. Essa também foi a temporada de estreia de Mathias Sammer no time, embora o jogador tenha sido discreto.
A temporada 1993/94 foi a mais discreta de Hitzfeld à frente do Dortmund. A equipe passou longe do título alemão, caiu nas quartas de final da Copa da UEFA, contra a Internazionale, e foi eliminada da Copa da Alemanha na terceira fase pelo Werder Bremen. A melhor notícia para a torcida foi a contratação de Andreas Möller e de Júlio César junto à Juventus. Ambos seriam fundamentais para o time e para o treinador nas próximas temporada.
A temporada 1994/95 e o primeiro título de Hitzfeld em sua terra natal
Com Möller e Júlio César, o Borussia resolveu problemas de criatividade no meio-campo e ganhou força defensiva e jogadores experientes para dividir responsabilidades com Sammer. Möller havia disputado duas Copas do Mundo pela Alemanha e era extremamente criativo, além de já ter jogado pelo clube entre 1988 e 1990, o que facilitou sua adaptação. Júlio César tinha sido titular do Brasil na Copa do Mundo de 1986, quando foi eleito o melhor zagueiro central da competição.
A temporada alemã ficou polarizada entre o Borussia e o Werder Bremen. Empatados com 39 pontos, mas com vantagem nos critérios de desempate para o aurinegro, os times se enfrentaram. O Werder venceu por 3×1 e ficou muito perto do título.
Ironicamente, o responsável por recolocar o BVB na disputa foi seu maior rival, o Schalke. Na 32º rodada, os Azuis Reais – sem qualquer pretensão na tabela – receberam e derrotaram o Werder, enquanto o Borussia empatou com o Borussia Mönchengladbach. Separados por 1 ponto na última rodada, o time de Bremen viajou até Munique para enfrentar um Bayern completamente desinteressado, mas perdeu por 3×1. O Borussia, em casa, venceu o Hamburgo por 2×0 e a Salva de Prata foi para Dortmund. Hitzfeld havia levado o time ao primeiro título alemão desde a temporada 1962/63. Festa na Muralha Amarela e ida à Liga dos Campeões da UEFA garantida na temporada seguinte.
O bi alemão e a disputa da UCL
Na temporada 1995/96, o Borussia voltou à Champions League após mais de 30 anos. O time era tido como possível candidato ao título, mas sem o mesmo favoritismo de Juventus, Ajax e Real Madrid. Destes, só os merengues não cruzaram o caminho aurinegro. O Dortmund terminou a fase de grupos em segundo, atrás da Velha Senhora, e caiu nas quartas de final para os Filhos dos Deuses. O BVB caiu com uma campanha aquém de suas reais capacidades.
Na Bundesliga, o Borussia assumiu a ponta na 12º rodada e não a perdeu mais. A conquista foi consumada na 32º rodada.
Nessa temporada, chegou Jürgen Koller, terceiro pilar da defesa de Hitzfeld, formando uma barreira com Sammer e Júlio César. O resultado viria na temporada seguinte.
O primeiro título da Liga dos Campeões
Em 1996/97, o Dortmund voltaria a disputar a Champions League e também estava forte na disputa pelo tri alemão, inédito em sua história.
Na Bundesliga, a equipe era líder até pouco mais da metade. Porém, derrotas para Stuttgart, Mönchengladbach, Duisburg, Bayern e Arminia em curto espaço de tempo custaram à equipe o título, que ficou com o Bayern.
Na UCL, o time caiu no grupo de Atlético de Madrid, Steaua Bucareste e Widzew Lodz – POL e avançou ao mata-mata com apenas uma derrota, para o Atlético, na Alemanha. Mesmo com 4 vitórias e 1 empate, o time foi segundo na chave, dificultando o caminho na fase seguinte.
O mata-mata
As quartas de final foram contra o Auxerre, então campeão francês. A vitória aurinegra por 3×1 no Westfalenstadion encaminhou a classificação, confirmada com vitória por 1×0 na França.
Na semifinal, o adversário foi o Manchester United de Cantona, Beckham e Andy Cole. Os Red Devils vinham de 2 títulos nacionais e um vice nas três últimas temporadas e, no momento do confronto contra o time alemão, lideravam a Premier League com 12 pontos de vantagem. O jogo de ida foi duríssimo, mas Hitzfeld comandou um Borussia com muitos desfalques (Riedle, Ricken, Chapuisat, Júlio César, Koller e Sammer) à vitória por 1×0. Na volta, Riedle, Ricken, Chapuisat e Koller retornaram e os alemães venceram novamente por 1×0.
A grande decisão
A final da Champions League 1996/97 foi no Estádio Olímpico de Munique, casa do Bayern. 59 mil pessoas compareceram ao jogo e viram uma memorável atuação de Riedle e Möller, que levaram a defesa da favorita Juventus à loucura. A Velha Senhora começou melhor e teve uma chance claríssima de gol desperdiçada por Vieri. Mas quem abriu o placar foi o Borussia: Riedle dominou bola cruzada por Lambert no peito e chutou por baixo de Peruzzi. Ele mesmo amplioi o placar cinco minutos mais tarde, cabeceando bola cruzada por Möller em escanteio. A Juventus saiu em busca de um gol que a colocaria de volta no jogo e, ainda no primeiro tempo, Zidane quase diminuiu a vantagem alemã, mas parou na trave.
No intervalo, Marcello Lippi tirou o zagueiro Porrini e colocou Del Piero. A Juventus pressionava, e esbarrou em duas grandes defesas de Klos antes de diminuir em bela troca de passes, cruzamento de Boksic e letra de Del Piero. Mas nada tiraria aquele título de Dortmund. Seis minutos mais tarde, Ricken, em campo havia 16 segundos, recebeu passe de Möller em contra-ataque e, de longe, encobriu Peruzzi. Golaço, 3×1 e festa da metade amarela do estádio, agora campeã europeia.
Foi o último jogo do time sob as ordens de Hitzfeld. Seu convívio com alguns jogadores havia se desgastado de forma irrecuperável e, então, o treinador mudou de posição. Foi gerente do clube por uma temporada. Mas resolveu voltar a ser técnico e aceitou um convite do Bayern. Seria o início de uma nova hegemonia na Alemanha.
A ida para Munique e o início de uma nova hegemonia
Quando Hitzfeld chegou ao Bayern para a temporada 1998/99, o clube vinha de uma temporada traumática. O título alemão escapara para o pequeno Kaiserslautern e, na UCL, os bávaros foram eliminados pelo Borussia nas quartas de final. Era preciso um recomeço.
Já em sua primeira temporada, o técnico mostrou a que veio, promovendo uma reconstrução do time com a contratação de jogadores como Effenberg, Jeremies, Linke e Salihamidzic. O resultado foi positivo: o Bayern conquistou a Bundesliga com 15 pontos de vantagem para o Bayer Leverkusen. Porém, a alegria foi seguida de grande tristeza e decepção: na final da Liga dos Campeões, os bávaros abriram 1×0 sobre o Manchester United, mas o título, que não vinha desde 1976, escapou nos acréscimos, quando os Red Devils marcaram dois gols.
Na temporada seguinte, novo título alemão, dessa vez apenas nos critérios de desempate contra o Bayer Leverkusen. Na UCL, o Bayern caiu para o Real Madrid nas semifinais, resultado doloroso, pois na segunda fase de grupos as equipes haviam se enfrentado, com duas vitórias alemãs: 4×2 na Espanha e 4×1 na Alemanha. O time também conquistou a Copa da Alemanha, batendo o Werder Bremen por 3×0 na decisão.
A Bundesliga mais fantástica e o título da Champions mais vingativo da história
Para a temporada 2000/01, o Bayern entrou como favorito ao título na Alemanha e na Champions League. Na Bundesliga, o tricampeonato foi dramático e ainda hoje de péssima recordação para o Schalke. As duas equipes passaram toda a competição se revezando na ponta da tabela, juntamente com Dortmund e Leverkusen. Porém, uma derrota para o Stuttgart na penúltima rodada deixou o Schalke em situação complicada, precisando vencer e secar o Bayern, que visitaria o Hamburgo na última rodada. Os Azuis Reais fizeram sua parte e chegaram a comemorar o título (seria o primeiro desde 1958) após o Hamburgo abrir o placar no minuto final da partida contra o Bayern. Porém, em um polêmico tiro livre indireto, Effenberg rolou para Patrik Andersson empatar. Embora o árbitro ainda não tivesse encerrado o jogo após o gol, a partida não mais foi retomada e o Bayern levantou o troféu.
Na Champions, o Bayern passou tranquilamente pelas fases de grupos. Nas quartas de final e nas semifinais, os bávaros executaram duas “vinganças”: a primeira contra o Manchester United, que lhe tirara o título dois anos antes, e a segunda contra o Real Madrid, carrasco da edição anterior. Impiedosamente, os comandados de Hitzfeld venceram os quatro jogos.
A decisão da UCL 2000/01
O Bayern chegou à decisão da UCL como favorito contra o Valencia, embora o time espanhol tivesse uma campanha de respeito até ali . Mas, como o futebol é imprevisível, foram Los Che que abriram o placar com Mendieta, de pênalti. Os alemães tiveram uma penalidade desperdiçada por Scholl ainda no primeiro tempo. Já na etapa complementar, mais um pênalti para o Bayern, dessa vez convertido por Effenberg. O empate persistiu até o fim da partida e o título seria disputado na marca da cal. Foi quando brilhou Oliver Kahn, que defendeu 3 cobranças e deu a taça aos bávaros. Hitzfeld se tornava o primeiro técnico desde Ernst Happel a conquistar a Liga dos Campeões por dois clubes diferentes. Além disso, foi eleito o melhor treinador do ano na Alemanha.
Os anos pós-título europeu
Ottmar Hitzfeld permaneceu no Bayern até a temporada 2003/04. Nesse tempo, conquistou apenas um título, a Bundesliga 2002/03. Após deixar o clube, o treinador ficou três anos longe do futebol. Mas, em 2006/07, os bávaros recorreram a ele para substituir Felix Magath, que não fazia bom trabalho na liga nacional. Porém, não houve milagre e a torcida de Munique não comemorou nenhum título e o clube não conseguiu nem vaga na Liga dos Campeões.
Na temporada 2007/08, o Bayern disputou a Copa da UEFA, caindo diante do Zenit nas semifinais. Na liga doméstica, o treinador conquistou o heptacampeonato, ficando atrás apenas de Udo Lattek como maior vencedor da Bundesliga. Apesar da conquista, seu contrato não foi renovado e Hitzfeld assumiu o comando da Suíça após a Euro 2008.
Sob seu comando, os suíços disputaram a Copa do Mundo de 2010 e lideram seu grupo nas Eliminatórias para a Copa de 2014. O fracasso ficou por conta da ausência na Euro 2012.
Títulos de Hitzfeld como treinador
FC Aarau:
Copa da Suíça – 1985
Grasshopper:
Campeonato Suíço – 1989/90, 1990/91
Copa da Suíça – 1989,1990
Supercopa da Suíça – 1990
Borussia Dortmund:
Liga dos Campeões da UEFA – 1996/97
Campeonato Alemão – 1994/95, 1995/96
Supercopa da Alemanha – 1995,1996
Bayern de Munique:
Liga dos Campeões da UEFA – 2000/01
Mundial de Clubes – 2001
Campeonato Alemão – 1998/99, 1999/2000, 2000/01, 2002/03, 2007/08
Copa da Alemanha – 2000, 2003, 2008
Copa da Liga da Alemanha – 1998, 1999, 2000, 2007