Desde o início de 2012 no comando do Newell’s Old Boys, Gerardo “Tata” Martino vem fazendo mais um grande trabalho. Antes de sua chegada o clube de Rosário vinha de duas péssimas campanhas no campeonato nacional, um 19º lugar no Clausura e um 18º no Apertura no ano anterior, e necessitava de sérias mudanças.
Martino, por sua vez, estava valorizado pelo brilhante trabalho realizado no comando da seleção paraguaia e havia recebido uma interessante proposta da seleção colombiana. Mas seu sentimento pelo clube onde foi ídolo como jogador falou mais alto que o aspecto financeiro e ele acabou por assumir o cambaleante Newell’s Old Boys. Tata foi o atleta que mais vestiu a camisa do Newell’s, com 505 atuações em 14 anos, durante os quais conquistou três títulos nacionais e foi duas vezes finalista da Taça Libertadores da América (1988 e 1992).
Diante do desafio de reformular o time, livrá-lo do rebaixamento e guiá-lo para novos caminhos, Martino logo mostrou serviço. Mudou completamente o panorama da equipe já em sua primeira temporada, quando o Newell’s chegou a liderar o Clausura. O time acabou terminando na sexta colocação, o que, apesar da queda de posições ao longo do torneio, representou uma nítida evolução em relação ao ano anterior.
No campeonato seguinte, o Torneo Inicial 2012 (nova nomenclatura), o Newell’s evoluiu ainda mais. Os leprosos lideraram a competição por seis rodadas e brigaram de forma acirrada pela ponta da tabela. No fim, no entanto, o Vélez arrancou e acabou conquistando o título com uma rodada de antecipação. Ignacio Scocco, recém-chegado, foi artilheiro e craque do Torneo, voltando ao clube que o revelou em grande estilo.
O zagueiro Gabriel Heinze (35 anos) e o meia Maxi Rodriguez (32 anos), outros dois experientes jogadores, com passagem pela seleção argentina, também voltavam ao Newell’s após muitos anos atuando no futebol europeu. Além do afeto pelo clube, o retorno dos atletas também se deve ao treinador e seu enorme prestígio.
Com um 4-3-3 flexível, que varia para um 4-2-3-1 e até mesmo a um pouco usual 4-1-4-1, Martino estabeleceu um padrão tático equilibrado à equipe. A defesa, comandada por Heinze e protegida por Hernan Villalba, mostrou-se bastante sólida e foi um dos pontos fortes da campanha do Torneo Inicial. Foram apenas 11 gols sofridos em 19 jogos, a 2ª defesa menos vazada da competição.
Para 2013, o lateral Leonel Vangioni, uma importante peça do esquema defensivo, foi embora para o River Plate e, em seu lugar, Milton Casco foi acionado. Outras mudanças foram feitas, especialmente no meio campo. Com a entrada do polivalente meia peruano Cruzado, o rendimento da equipe melhorou ainda mais, e o foco, que era o setor defensivo, passou a ser o ofensivo. O rubronegro tem o melhor ataque do Torneo Final argentino com 32 gols, 10 deles do artilheiro Scocco, que segue impossível, firmando-se como um dos grandes ídolos da torcida.
O Newell’s lidera o Torneo Final e está nas semifinais da Taça Libertadores da América, feito antes alcançado duas vezes na história do clube (com Martino em campo). Nesta terceira oportunidade, a confiança é grande. A equipe eliminou Vélez e Boca Juniors, dois concorrentes de inegável força, histórica e tecnicamente. Com a interrupção da competição devido à Copa das Confederações, as atenções se voltam para o Argentino, que está a três rodadas do fim. O esquadrão de Martino lidera com 32 pontos, três a mais que os vices Lanús e River Plate, que ainda se enfrentam na penúltima rodada e terão caminhos mais complicados.
Diante de mais um grande trabalho realizado pelo treinador do rubro-negro de Rosário, os olhos europeus, especialmente espanhóis, se voltaram para ele. Com o sucesso de Diego Simeone e Marcelo Bielsa, técnicos argentinos têm sido cada vez mais valorizados. Além deles, ainda temos o exemplo de Manuel Pellegrini, recém-contratado pelo Manchester City, que se destacou com Villareal e Málaga e chegou a treinar o Real Madrid. Pellegrini é chileno, mas foi seu trabalho no futebol argentino que despertou o interesse dos espanhóis.
E pode ser exatamente a vaga de Pellegrini que Tata Martino ocupe na próxima temporada. O Málaga demonstrou interesse em contar com os serviços do treinador do Newell´s, que, por sua vez, também evidenciou vontade de trabalhar no velho continente. Outro possível destino é o Real Sociedad, clube que poderá disputar a próxima Liga dos Campeões. Neste caso, Tata seria rival do ídolo Bielsa, caso ele continue sendo treinador do Athletic Bilbao.
Antes de se despedir de seu clube de coração, Martino ainda tem grandes oportunidades pela frente. A primeira: mais um título argentino. Seria o sexto na história dos leprosos, o quarto com sua participação. Isso sem falar na Libertadores, conquista inédita para o clube, e que poderia fechar com chave de ouro mais uma passagem brilhante desta linda história de identificação de Martino com o Newell’s.