O futebol parece ter deixado de ser aquele esporte visceral de antes. Se compararmos as condutas dos jogos de hoje e de 20 anos atrás, teremos a certeza que estamos comparando dois esportes totalmente diferentes. E o atual, com certeza, é o mais chato.

Reprodução / Viola imitou um porco em 93. Comemoração entrou para a história, mas o Palmeiras ficou com o título

Reprodução / Ídolo do Vasco, Edmundo fez gestos obcenos para os vascaínos quando defendia o Flamengo
Falando principalmente de jogadores aqui no território brasileiro, os anos 90 nos deram Viola e suas comemorações especiais, Edmundo e suas explosões em campo, tanto na genialidade do bom futebol quanto na facilidade em arrumar confusões. O zagueiro Válber que de tanto faltar aos treinos no São Paulo foi apelidado de “Rei do Sumiço”, Paulo Nunes que tirava adereços sabe-se lá de onde para comemorar seus gols.
Sem falar nas entrevistas: Romário nunca deu entrevistas ensaiadas, sempre fugia do comum. Renato Gaúcho foi outro que sempre falou o que pensou, e até o que não pensou. Até mesmo os jogadores que sempre foram tachados de falsos, como Marcelinho Carioca, tinham seus momentos autênticos…
Nos clássicos, era comum ter aposta entre os jogadores adversários, provocações dentro e fora de campo. Nos jogos, o chicote estralava, mas na partida seguinte todos os problemas eram zerados e começava tudo de novo.

Reprodução / Vampeta desceu a Rampa do Planalto dando cambalhotas. Felipão e o ex-presidente FHC curtiram
Até mesmo nas arquibancadas (principalmente em São Paulo), o clima de hoje é bem diferente daquela época. As torcidas exibiam faixas e bandeirões, os estádios estavam sempre com bom público e a festa nas arquibancadas era linda.
Talvez o último dos jogadores à moda antiga foi Vampeta. O mesmo que deu uma cambalhota na Rampa do Planalto, em um evento solene com a presença do Presidente da República. Aquele que, em um bate-papo informal com jornalistas, disse que quando o Flamengo estava em crise financeira, o clube fingia que pagava os salários em dia e ele fingia que jogava.
Hoje, se seu time for jogar contra o XV de Boiçucanga, certamente o destaque do time dirá que “Não existe mais bobo no futebol”, “O XV tem bons jogadores, não podemos vacilar” e a clássica: “Vamos com todo respeito ao adversário em busca dos três pontos”. As entrevistas confiantes de outrora, deram espaço a respostas sem personalidade e repetitivas.
Se Paulo Nunes homenageou as dançarinas Tiazinha e Feiticeira em jogo, Neymar foi expulso de campo por colocar uma máscara com seu rosto. Tempos atrás, o árbitro Leonardo Gaciba deu falta por um lance em que um jogador do Coxa, chamado Jabá, estava dando pedaladas contra o Santos. O juiz apitou falta por conduta anti-desportiva (!), punindo o drible.

Reprodução / Serginho Chulapa se dirige ao goleiro Leão que caído é agredido na final do Brasileirão de 1981
Outro fato que também chama a atenção são os juizes brasileiros. Só eles mandam voltar pênaltis nos quais os goleiros se adiantam. Em 2009, Rogério Ceni defendeu um pênalti de Petkovic em que o goleiro fez de tudo, menos se adiantar. Mesmo assim, o árbitro da partida fez questão de mandar voltar a cobrança.
Durante a Copa das Confederações, os dirigentes aconselharam o torcedor a permanecer sentado durante o jogo, no estilo europeu. Mas torcer sentado certamente não traz a mesma emoção.

Foto: AE / Neymar se prepara para cobrar escanteio no Novo Maracanã. Todos os torcedores estão sentados
Hoje, o que vemos é um futebol politicamente correto. E chato!