Brio de campeão
O Olimpia iniciou o jogo como já era esperado. Foi postado no 5-3-2. Com os meias próximos dos laterais, que juntamente aos zagueiros, davam ao time do Paraguai três marcadores de cada lado do campo, trancando os flancos. Diferente foi o posicionamento de Alejandro Silva. O uruguaio foi escalado como meia central (no primeiro jogo atuou como lateral), para ser o desafogo do time em contragolpes.

Olimpia defendendo os flancos com três marcadores em cada lateral. O lado em que o adversário estava atacando, se compactava com a volta do meia daquele setor – na imagem é o lado esquerdo, com Silva
Cuca escolheu por Michel na lateral direita, na vaga do suspenso Marcos Rocha. Com isso, o treinador manteve o habitual 4-2-3-1. O Galo conseguiu realizar metade do processo de construção das jogadas para furar o bloqueio adversário. A bola que saia bem pelos lados era direcionada ao centro de campo, onde existia espaço para articular. Mas faltou a opção para esse passe sair em profundidade, o passe diferenciado não aconteceu. Faltou a diagonal dos pontas – como fez Bernard no primeiro gol contra o Newell’s -, que estavam muito próximos da marcação e não circularam; faltou o ”homem surpresa”, que possa vir de trás. Com esse cenário, a bola tinha que voltar para os lados de campo, onde o Galo chegava até a linha de fundo, mas com a forte marcação lateral, somente alçava bolas na área. O time de Cuca foi previsível no primeiro tempo.
O Rey de Copas atacou mais do que o esperado na primeira etapa, pois quando desarmava conseguia fazer a transição ofensiva com velocidade. O que propiciou esse bom momento do time visitante no jogo foi o espaço existente entre as linhas do Atlético. Em alguns momentos, o time alvinegro mineiro se dividia em, praticamente, dois blocos: defensivo (zagueiros, laterais e Pierre) e ofensivo (linha de três do meio e Jô). Apenas Josué ficava entre eles. Fruto disso foi o Galo não conseguir espremer o adversário na retaguarda, nem marcar pressão.

O 4-2-3-1 habitual do Atlético-MG estava fadado a parar na marcação do 5-3-2, com os lados trancados, do Olimpia. E, no primeiro tempo, foi o que aconteceu
Em alguns momentos foi possível ver Bernard e Tradelli invertendo os lados, procurando espaço, mas não foi suficiente. A melhor chance dos primeiros 45 minutos foi dos paraguaios, com Silva entrando na zaga adversária na diagonal e perdendo o gol de frente para Victor. Essa jogada mostrou bem como o time treinado por Ever Almeida buscava o gol: ultrapassagens em diagonal, passes profundos e Silva chegando à frente.
O primeiro tempo chegou ao fim e um fato estava desenhado: se o jogo continuasse no ritmo em que estava, o Atlético não iria furar a retranca adversária. Só em caso de um lampejo de craque de Ronaldinho e Bernard, ou uma falha do sólido sistema defensivo do Olimpia… Demorou apenas um minuto para esse último acontecer! Pittoni furou em um cruzamento e Jô não perdoou. O detalhe fica para quem fez o cruzamento: Rosinei. Ele que entrou na vaga de Pierre e deu suporte ao ataque vindo de trás, ocasionando boas jogadas.

No segundo tempo, Rosinei, vindo de trás como ”homem surpresa”, deu nova dinâmica ao meio campo do Galo. Com a entrada de Alecsandro no lugar de Michel, aos 27 minutos, Rosinei foi para a lateral e, com dois centroavantes, o time mineiro conseguiu o segundo gol
Silva saiu para a entrada de Giménez. O Olimpia se fechava ainda mais e o jogo voltou a ganhar os ares que rondavam o primeiro tempo. O Galo não conseguia assustar e resolveu insistir no que mais fez no jogo: cruzar bolas na área. Para isso, colocou Alecsandro e Guilherme, nos lugares de Michel e Tardelli.
Bernard e Guilherme pelos lados voltam próximos a Josué, ajudando a bola sair com qualidade e dando passagem para os laterais (Jr. César e Rosinei). Com dois centroavantes (Jô e Alecssandro) e Ronaldinho se movimentando, o time ganhou força nas jogadas por cima e insistiu… até a bola balançar as redes. Bernard colocou na cabeça de Leonardo Silva, que desenhou o 2×0 no placar. Antes disso, porém, o Olimpia havia perdido duas ótimas chances de gol, com Salgueiro e Ferreyra; e Manzur foi expulso.

Antes de Bernard sentir as câimbras, o camisa 11 e Guilherme fizeram boa movimentação: saiam dos lados de campo para dar qualidade na armação de jogadas, se aproximando de Josué
Na prorrogação não foi diferente. O Atlético continuou com a bola aérea e deixou de lado a construção de jogadas. Até acertou o travessão com Réver, mas parou por aí. Tudo conspirou para Victor ser o herói de mais uma noite, de mais uma vitória, do almejado título de campeão de Libertadores. E assim foi, pois não podia ser diferente! O jogo bonito não existiu na final, jogadas geniais também não, mas sobrou disposição, fé e brio de campeão. O Atlético-MG foi merecedor e terá lugar garantido em Marrocos.