Não se pode tirar os méritos da conquista do Atlético Mineiro. O time de melhor campanha da primeira fase e que apresentou o futebol mais bem jogado sagrou-se campeão. Mas o futebol é cheio de ditados folclóricos que, muitas vezes, encaixam-se na realidade dos vencedores. No caso do Galo, houve a verdadeira “sorte de campeão”. Um tapa com luva de pelica na cara de todos aqueles que atribuíam a fama de azarado ao técnico Cuca.
Atleticano ou não, todos nos lembramos de momentos cruciais em que o Atlético passava por apuros na Libertadores e, milagrosamente, conseguiu se dar bem. Curiosamente, todas as situações foram na fase mata-mata, ou seja, a sorte do Galo, ou de Cuca, virou na hora certa. O Doentes por Futebol relembra agora todos os milagres da inédita conquista alvinegra.
1) Oitavas de final – O milagre do Morumbi
Era o duelo entre os times de melhor e pior rendimento da primeira fase. O Galo vinha com uma campanha absoluta, e o São Paulo, claudicante. Em campo, os papéis se inverteram. O Tricolor foi pra cima, abriu o placar logo no começo e ainda perdeu boas oportunidades de aumentar a vantagem. Era um verdadeira massacre. Era. Até Lúcio ser expulso após dois cartões amarelos e o Atlético virar o jogo logo no início do segundo tempo. No jogo de volta, no Horto, 4×1, com três gols de Jô e classificação mais do que garantida.
2) Quartas de final – A lesão de Bernard e o milagre de Luan
Contra o Tijuana, os adversários eram muito mais do que apenas o time mexicano. Gramado sintético, uma equipe que não havia levado nenhum gol dentro de casa e a torcida adversária pressionando o tempo todo. Quando o Tijuana abriu dois gols de vantagem, o autor do milagre da vez já estava em campo. Luan entrara no lugar de Bernard no intervalo. Uma alteração que só foi feita porque o titular se machucou. No fim, o 2×1 a favor dos mexicanos não era um resultado catastrófico, mas o atacante não quis saber disso. Aos 46 minutos do segundo tempo, na briga, na marra, ganhou a jogada e fez o gol de empate. Um gol que se mostraria verdadeiramente importante no jogo da volta, uma semana depois.
3) Quartas de final – O primeiro milagre de São Victor
Quando todos esperavam um jogo até certo ponto tranquilo, o Tijuana resolveu complicar. O Galo, mesmo no Horto, não conseguiu apresentar a mesma volúpia e qualidade de partidas anteriores, e os mexicanos armavam contra-ataques perigosos. Uma mistura perigosa que se transformou em verdadeiro terror quando Leonardo Silva cometeu pênalti aos 47 minutos do segundo tempo. Cuca, solitariamente em sua própria cabeça, reviu todos os traumas e alcunhas de azarado sambarem em frente ao seu rosto. O Independência calou-se. Talvez fosse possível ouvir a respiração e as batidas do coração do goleiro atleticano. Na cobrança, Riascos não arriscou, escolheu o meio do gol. Mas não contava que, ao cair para o lado direito, São Vitor, a partir daquele momento, deixaria o pé esquerdo salvador para chutar a bola e todo o azar que supostamente pertencia a Cuca para longe, bem longe.
4) Semifinal – O milagre da luz reacende o Galo
Era a final antecipada, como muitos vinham chamando. Na ida, 2×0 para o time argentino. Um placar indigesto de reverter, mesmo jogando com a mística do Horto. O primeiro gol, logo no começo do jogo, parecia indicar uma noite mais tranquila do que todos esperavam. Mas o tempo foi passando, passando, passando… e nada do Galo dar a bicada final. Eis que, milagrosamente – ou seria “milagrosamente”? – a luz do Independência apagou-se. Na volta, 11 minutos depois, além dos refletores, quem acendeu foi o Atlético. As entradas de Guilherme e Alecsandro indicavam a busca incessante pelo gol. E ele veio, justamente dos pés de Guilherme. No pênaltis, mais uma vez, o goleiro do Galo fez a sua parte ao pegar a última cobrança, de Maxi Rodriguez. Antes, dois jogadores de cada time perderam pênaltis em uma sequência inacreditável.

Foto: Globoesporte.com – Depois do apagão e do gol do Guilherme, Victor pegou a cobrança de Maxi Rodriguez e levou o Atlético à final
5) Final – O milagre ao chão, ao ar, aos pés de São Victor
Mais uma vez a tarefa se mostrava hercúlea. Fazer dois gols, no mínimo, na retranca do Olímpia e não levar nenhum. A ansiedade e a pressa atrapalhavam. Assim como nas quartas de final e na semifinal, o Atlético não repetia o melhor futebol de outrora. Mas tentava sufocar. O primeiro gol saiu logo no início do segundo tempo. Com o placar em 1×0, Ferreyra saiu cara a cara com Victor, driblou o goleiro e… caiu! Escorregou, pisou em falso, foi derrubado por todas as pernas que lotavam a arquibancada do Mineirão. Escolha a opção que melhor se encaixar em sua fantasia. Pouco depois, expulsão de Manzur. Mais um pouquinho depois, cruzamento de Bernard, Leonardo Silva subiu e, quando o corpo começara a cair, ainda no ar, acertou uma cabeçada pouco provável. A bola subiu, dançou no ar e, como numa cesta de basquete, caiu de chuá nas redes paraguaias. Os 30 minutos mornos da prorrogação serviram para que todos recuperassem o ar e tentassem, como se fosse possível, acalmar os corações. Nos pênaltis, pela terceira vez seguida, o “santo” goleiro atleticano Victor apareceu. Novamente com o pé esquerdo, novamente no meio do gol. As cobranças continuaram até que a bola beijasse a trave do goleiro alvinegro e explodisse ao céu, alavancada pelos gritos, choros, risos, e urros de alegria pela inédita conquista.