O sonho de muitos torcedores apaixonados por futebol é conhecer os maiores templos do futebol espalhados pelos quatro cantos do planeta. Entre eles, certamente está a mítica Bombonera, casa do Boca Juniors, e muitas vezes temida pelos times brasileiros que precisam jogar por lá. Além de íngreme, o pequeno espaço entre o campo e a arquibancada também colabora para a sensação de imponência que o estádio passa.
Em fevereiro de 2013, estive em Buenos Aires e pude conhecer de perto todos os encantos e segredos da Bombonera. Não só visitei o estádio, como também fui ao jogo, válido pela primeira rodada do Torneio Final, em que o Boca venceu o Quilmes por 3×2, de virada, na reestreia do ídolo e técnico do clube, Carlos Bianchi.
Exclusivamente aqui, Doentes, vocês vão poder conferir essa história em duas partes. Na primeira, vamos mostrar como é o tour pelo estádio, com direito a visita ao Museo de la Pasión Boquense, às arquibancadas e ao vestiário do time visitante. Na segunda parte, contaremos como é ir ao jogo.
Passeio na Bombonera, uma tradição turística
A Bombonera fica no humilde bairro La Boca. Do centro de Buenos Aires até lá, de carro, o percurso dura entre 20 e 30 minutos. Ao se aproximar do local, a paisagem muda radicalmente. Os prédios saem, as casas entram. E não são casas quaisquer. Pequenas, simples e, em sua maioria, com detalhes em azul ou amarelo, seja na pintura ou em bandeiras e camisas do Boca Juniors penduradas em janelas e varandas.
À medida em que o táxi avança, o estádio surge. Com ele, percebe-se também a maior movimentação nas ruas do entorno. São outros turistas que chegam e vendedores que ficam em frente às lojas para oferecer toda a sorte de produtos relacionados aos xeneize (uma das alcunhas do Boca Juniors).
Ao chegar, entramos diretamente na loja do clube. Ali, além dos produtos oficiais, é possível adquirir os ingressos, que custam 60 pesos por pessoa para a visitação guiada (ao contrário do que acontece em lojas e restaurantes de Buenos Aires, o clube não aceita pagamento em dólar ou real), que é realizada de meia em meia hora e em grupos. Enquanto espera, o visitante pode conhecer mais a história do clube no Museo de la Pasión Boquense. O corredor de entrada é repleto de fotos de todos os jogadores que passaram pelo Boca – sim, Luiz Alberto está imortalizado por lá -, além de estátuas de Riquelme e Palermo. Maradona não foi esquecido, a dele fica no meio da loja.
A história do clube é contada de diversas formas. Há painéis com fatos pontuais, uma linha do tempo, uma parede com todas as camisas da equipe, minisala de cinema com vídeos de entrevistas e lances raros, geralmente mais antigos, e um espaço com fotos, vídeos da torcida e de momentos importantes do time, além de algumas taças, como a da Libertadores, Sul Americana e Mundial.
Em seguida, hora de ir às arquibancadas com o guia. Os setores visitados são a geral atrás de ambos os gols, com ingressos mais populares, e as cadeiras centrais inferiores, voltadas para sócios mais antigos do clube. Nessa parte, o guia reúne o grupo de turistas, faz um resumo da história do Boca Juniors e fala sobre o estádio, desde a construção até a distribuição das torcidas em seu interior.
Depois, com o grupo posicionado na geral inferior que fica abaixo da organizada La Doce, ocorrem as explicações sobre os incômodos aos rivais. Primeiro, ele explica o porquê da arquibancada superior, do outro lado do estádio, ser destinada à torcida adversária: é o último lugar do estádio onde para de bater sol. Muitos jogos do campeonato argentino acontecem no fim da tarde. Ou seja, é sol na cabeça o tempo todo. Depois, conta que o vestiário adversário, além de ser bem menor que o dos donos da casa, fica abaixo dessa geral. Antes, durante o intervalo e, se possível, até depois do jogo, a massa de torcedores ali localizada pula e canta sem parar, visando pressionar e atrapalhar a preparação de quem enfrenta o Boca.

Foto: Leandro Lainetti – Bomboneira vista de uma das gerais. Do outro lado, o número 12 marca o local da organizada La Doce
Para complementar, um detalhe: o vestiário azul e amarelo possui banheiras, camas de massagem, espaço amplo e água quente. O dos visitantes, não. Nas palavras do guia, “tudo aqui é feito para incomodar e atrapalhar quem vem enfrentar o Boca Juniors”.
No dia seguinte, o “efeito Bombonera”parece ter funcionado na vitória do Boca contra o Quilmes. Mas essa história fica para amanhã, quando contaremos como é ir ao estádio num esquema corrupto e perigoso maquinado pela torcida organizada.