O futebol não é só entretenimento, ou aquela fonte de sentimentos diversos da qual costumamos beber dia sim e outro também. O futebol é uma paixão nacional e, sim, ele é uma extensão da sociedade, uma ramificação de nós mesmos. O futebol, mais do que refletir nosso caráter, reflete o mundo em quem vivemos.
O que aconteceu em Joinville durante o jogo entre Atlético-PR e Vasco poderia ter acontecido em qualquer cidade e estádio do país. Então se você é daqueles que defendem o argumento tacanho e dizem que “no meu clube não é assim, que vergonha”, para de ler o texto aqui mesmo. Você é tão selvagem quanto quem estava brigando naquelas arquibancadas. No seu clube é assim, no meu é assim e no de todos é assim. A selvageria e a bandidagem não são exclusividade de clube A ou B. E, na maior parte dos casos, existe porque os seus atores sabem que a impunidade se fará presente.
Culpados são os que brigam, se matam e afugentam os torcedores de bem – crianças, idosos, famílias completas – que apenas querem se divertir e apoiar o time de coração. Tão culpados quanto eles são os que organizam, policiam e julgam os que eventualmente vão presos. Os imbecis que propagam a violência não querem que isso mude. Mas quem está por trás do espetáculo deveria querer. Ou mostrar que quer. Não adianta prender e soltar, julgar e depois trocar as punições severas por brandas e, o pior dos casos, terceirizar a culpa. Porque, apesar dela ser de todos, parece que nunca é de ninguém.
Não vou nos excluir deste roteiro. Como cidadãos, também somos réus dos crimes praticados em estádios de futebol. Não levantamos punhos e pernas para agredir ninguém, muito menos nos munimos de paus e pedras para atirar na direção de outros. Mas somos nós que assistimos a tudo condescendentemente. Somos passivos e pouco fazemos para mudar esse panorama de guerra que nos cerca.
As imagens estão aí, os vídeos estão aí. É possível ver quem são e quem fez o quê. É possível botar todos na cadeia e, a partir daí, criar um modelo que sirva como solução para dar fim à barbárie que assola nosso futebol praticamente toda semana. Mas haverá boa vontade de todos os envolvidos? Duvido.
O resultado de toda essa lamentável situação é um só: estamos caminhando para o fim. As imagens deste fim de semana – e de tantos outros – só mostram a falência da nossa sociedade. Sim, da sociedade, porque o futebol é apenas uma pequena parte dela que está completamente errada.
Muitos falam que, hoje, os rebaixados fomos todos nós. E fomos mesmo. Mas me permito ir além dessa análise. Porque quando um clube é rebaixado, ele tem o direito de se reinventar, se reerguer, se recuperar, e retornar para a Série A. Eu acredito que já tivemos as nossas chances e jogamos todas elas ralo abaixo.
Não fomos rebaixados. Fomos derrotados, falhamos, chegamos ao fim.
Perdemos para nós mesmos.