Nos últimos anos, os fãs mais fervorosos do futebol espanhol acostumaram-se a presenciar duplas de jogadores que se completavam dentro de campo e ganhavam a simpatia do grande público. Exemplos não faltam: Forlán e Agüero do Atlético de Madrid, Xavi e Iniesta do Barcelona, Nilmar e Rossi do Villarreal, Pandiani e Aranda do Osasuna, Silva e Villa do Valencia, Raúl e Van Nistelrooy do Real Madrid, Nihat e Kovacevic da Real Sociead. Por um triz, os dois últimos não levaram os bascos ao histórico título da Liga Espanhola em 2002/2003. E são justamente os torcedores da Real Sociedad que têm o prazer de acompanhar mais uma parceria que se formou durante os últimos anos: a do francês Antoine Griezmann e com o mexicano Carlos Vela.

Foto: Marca| Em 2009/2010, temporada de estreia de Griezmann, o jovem francês foi eleito o melhor jogador da segunda divisão espanhola
A história de Griezmann com a Real Sociedad começou de maneira precoce. Natural de Macón, cidade pertencente à parte francesa do País Basco, foi contratado pelo clube aos 13 anos de idade através de Eric Olhats, olheiro da Real Sociedad na França, que o descobriu durante a disputa de um torneio de base em Paris. A parte mais difícil foi convencer os pais do jovem a aceitar a assinatura de contrato, pois eles queriam que seu filho seguisse vivendo e estudando na França. Passado o imbróglio, Griezmann enfim rumou a San Sebastian.
Dos 13 aos 18 anos, Griezmann passou por todas as categorias inferiores da base da Real Sociedad. Sempre se destacando e progredindo ao longo dos anos, sua estreia no time A seria questão de tempo. E ela veio em 2009, ano no qual os txuri-urdins disputavam a Liga Adelante. Ainda com ficha profissional pertencente ao time B, a ascensão de Griezmann foi tão meteórica, que ele participou de praticamente toda a campanha que culminou no título e no acesso de divisão à elite espanhola do clube basco.
A instantânea adaptação do francês ao time chamou atenção. Habilidoso, ágil e versátil, ele não tardou a ganhar uma vaga no time titular como meia pela esquerda no 4-2-3-1 do uruguaio Martin Lasarte. Mas o que mais surpreendeu foi o papel de protagonista que Griezmann exerceu, não sentindo a pressão em nenhum momento. Decisivo, foi eleito o melhor jogador da Liga Adelante pela LFP. Somente uma amostra do que viria pela frente. Em 2010/2011, já na primeira divisão espanhola, voltou a se destacar e foi o nome de uma Real Sociedad irregular, que brigou por competições europeias na primeira metade da temporada, mas agonizou na segunda parte.
Por sua vez, Vela chegou ao Anoeta sob dúvidas. Após uma passagem sem sucesso por Salamanca, Celta Vigo e Osasuna, ainda muito jovem, e com atuações abaixo da média pelo Arsenal, onde nunca se estabilizou, foi emprestado pelo clube londrino à Real. Querendo dar a volta por cima e deixar de lado o rótulo de “eterna promessa”, o Vela que a Real Sociedad recebeu finalmente explorou seu verdadeiro potencial e, trocadilho à parte, colocou fogo no setor esquerdo das defesas adversárias.
Paradoxalmente, o sucesso da dupla demorou a emplacar. Enquanto Griezman não mostrou a mesma consistência na temporada de estreia de Vela, em 2011/2012, o mexicano dissipou a incógnita que foi sua contratação. Com 12 gols em 30 jogos e um segundo turno de ouro, terminou a temporada como o melhor jogador da Real Sociedad. Griezmann anotou sete em 35 e ratificou a descida de nível. Mas nada que assustasse. De contrato renovado ao término da temporada, o camisa sete tinha toda a confiança da diretoria para voltar a brilhar.
Os 10 gols em 30 jogos de Griezmann e os 14 em 34 de Vela, comprado em definitivo pelo clube, fincaram a melhor temporada recente da Real Sociedad em 2012/2013. Com um futebol leve e ofensivo, o time treinado por Phillipe Montanier alcançou a quarta colocação e recebeu o direito de participar pela primeira vez em dez anos da Liga dos Campeões da UEFA. Afinal, o entendimento da dupla garantiu um poder de fogo pelos flancos do campo diferenciado ao time basco. Que o diga o Barcelona, que perdeu sua invencibilidade no campeonato após sofrerem no Anoeta. A Real aproveitou bem a vulnerabilidade defensiva dos azul grenás e sufocou os futuros campeões, especialmente no segundo tempo.
Com problemas táticos e técnicos, a Real definhou na atual temporada. Eliminados na primeira fase da Liga dos Campeões e em sexto no campeonato espanhol, os blanquiazules não conseguiram defender a quarta colocação do ano passado. Individualmente, Griezmann, com 20 gols em 40 partidas, firma sua melhor temporada, enquanto Vela revezou entre boas e más partidas. A queda retumbante da Real, no entanto, não muda o status da dupla franco-mexicana. Sem perspectiva de saída e felizes em San Sebastian, Vela e Griezmann deverão ficar mais uma temporada na Real. E quem ganha com isso, além dos torcedores txuri-urdins, são os fãs de futebol espanhol.