O ano era 2010. Quartas de final. Brasil x Holanda. O melhor goleiro do mundo naquele momento estava ao nosso lado. O que havia para temer? Absolutamente nada. Mas todos sabemos como aquele dia terminou. A bola mais fácil da temporada veio na direção de Julio César, implorando para ser afastada. Mas os Deuses do futebol gostam de dramas, histórias de redenção. E antes de ser herói, o destino impõe: você precisa ser vilão.
Um pulo silencioso, o salto do companheiro, as mãos fechadas, o soco com endereço certo… o vazio. A crueldade na potência máxima e praticamente em câmera lenta. O choro sincero e instantâneo foi acompanhado pela confissão de culpa e por um pedido de desculpas em rede nacional. Nada que diminuísse as pesadas críticas. A cena, que esfumaçou de nossas cabeças uma semana depois, perseguiu o goleiro por quatro anos, estivesse ele vestindo a camisa da Seleção ou não.
Calhou que ele voltou a vestir, não sem ouvir, dia sim e outro também, que nem merecia estar ali. Cada convocação, cada jogo e todos lembravam da fatídica caça às borboletas de 2010. Mas a redenção não é assim, da noite para o dia. É um processo que vai amadurecendo, deixando os ávidos críticos certos de que ela nunca virá e eles terão razão em açoitar o nosso pobre vilão mais uma vez.
2013. Copa das Confederações, semifinal, Mineirão lotado, o eterno rival Uruguai. Bola na marca da cal, bola nas mão de Julio. Vitória por 2×1, vaga na final e título. Meses depois, lesões, incertezas, poucos minutos em campo e a garantia de Felipão que estaria na Copa, não sem ouvir o quanto isso era absurdo. Mas o destino, sabemos todos, escreve certo por linhas tortas.
O Mineirão, de novo, era o palco do espetáculo. O rival, outro sul americano. O goleiro, Julio Cesar. A redenção estava a caminho. Não sem antes deixar 120 minutos se passarem, não sem deixar a bola de Pinilla beijar a trave, como quem diz “não estrague a história, o herói aqui será outro”, não sem fazer todos os olhos se voltarem para um único lugar: as traves nas quais se encontrava nosso protagonista.
Pegou um. Pegou dois. Só precisou pular no canto certo no último pênalti para afugentar a bola de suas redes. O mar amarelo vibrou, os amigos correram para abraçar, os críticos fingiram não ver.
E o destino? Bom, o destino impõe: depois de ser vilão, Julio, você pode ser herói.