Há dois anos, bicampeão alemão, o japonês Shinji Kagawa deixava para trás a camisa 23 do Borussia Dortmund e partia para o Manchester United, onde seria comandado por Alex Ferguson, e, teoricamente, chegaria para agregar imprevisibilidade aos Red Devils. No entanto, o nipônico nunca correspondeu às expectativas, sempre figurando no banco de reservas. Buscando um recomeço, Kagawa retornou ao aurinegro, onde já começou a fazer a diferença.
[highlight color=”eg. yellow, black”]Do Japão ao topo da Alemanha:[/highlight]
Conhecida por receber um grande contingente de jogadores asiáticos, a Bundesliga foi o primeiro porto no Velho Continente para o japonês. Cria do Cerezo Osaka, onde foi treinado pelo brasileiro Levir Culpi com quem muito evoluiu, chegou a um clube tradicional, mas que há muito não figurava na batalha pelas láureas nacionais e flertava com muitos problemas financeiros. Kagawa fez parte de um processo de renovação do Borussia, ajudando a devolver o orgulho ao torcedor aurinegro do Vale do Ruhr.
Junto com Mario Götze, Lucas Barrios, Nuri Sahin e Mats Hummels, devolveu o Borussia ao seu lugar de destaque e ajudou o clube a se tornar a maior pedra no sapato do poderoso Bayern de Munique. Pelo clube de Dortmund, Kagawa foi opção pelo centro e pelos lados, ajudando muito na criação, com velocidade e imprevisibilidade.
Seu encaixe com Götze foi impressionante e levou jogadores importantes, como o egípcio Mohamed Zidan, a perderem muito espaço. Destaque e campeão, era difícil que o japonês não deixasse o Signal Iduna Park rumo a alguma equipe com maior potencial financeiro do que o Borussia. Assim, após disputar 70 jogos, marcar 20 gols e proferir 16 assistências, por aproximadamente £14 milhões, Kagawa partiu para Old Trafford, onde nunca mais foi o mesmo.
[highlight color=”eg. yellow, black”]Inferno astral nos Diabos Vermelhos:[/highlight]
Depois de viver dias de glória em Dortmund, esperava-se que Kagawa desse o salto de qualidade final, firmando-se, não mais como uma promessa, mas como uma realidade, um jogador de topo. Todavia, não foi o que se viu.
Fosse pela exigência física da Premier League, ou, até mesmo, pela concorrência com a qual teve de lidar no Manchester United, o japonês sempre se mostrou tímido, retraído. Distante e alheio na maior parte das partidas, conformou-se com a sua realidade de reserva e o estigma de eterna promessa passou a rondá-lo. Apesar de continuar sendo uma opção para qualquer uma das posições do meio-campo ofensivo, não se firmou. Em seu primeiro ano de Premier League, só atuou os 90 minutos em cinco ocasiões.
Apesar disso, seus números não foram ruins. Em 26 jogos, marcou seis gols e conferiu seis assistências. Considerando seus minutos em campo, aproximadamente 1.690, conforme o site Transfermarkt, a cada três partidas, Kagawa marcou um gol ou proferiu uma assistência. Seu ponto alto? Um hat–trick contra o Norwich City. Entretanto, isso não foi o suficiente considerando-se o que dele era esperado.
Já na última temporada, nem o desempenho numérico do japonês foi bom. Em 30 partidas, não marcou e deu apenas quatro assistências. Curiosamente, um de seus melhores jogos foi justamente contra o Norwich, sua grande vítima no futebol inglês. Passadas duas temporadas, restou claro: Kagawa precisava respirar novos ares. Assim, partiu para uma nova-velha trilha: Dortmund.
[highlight color=”eg. yellow, black”]Como Kagawa pode ajudar o Borussia?[/highlight]

Foto: Reprodução | De volta a sua casa, a esperança é que Shinji volte a demonstrar o seu melhor futebol.
Nesse retorno ao futebol alemão, Kagawa não terá mais a parceria de Mario Götze, mas compartirá o meio-campo, provavelmente, com Henrik Mikhtaryan, Marco Reus e Jakub Blaszczykowski, o Kuba. Estes jogadores lhe permitirão uma fácil readaptação ao clube, uma vez que o esquema tático aurinegro está pouco alterado em relação à forma como era antes de sua saída.
Em função de sua versatilidade, podendo atuar tanto aberto pelos flancos como pela faixa central, terá sua escalação condicionada por seus parceiros. Quando atuar ao lado de Mikhtaryan, possivelmente jogará aberto, ao passo que, na ausência do armênio, seu lugar deverá ser mais ao centro, como um autêntico camisa 10. Se a opção for pelo gabonês Pierre-Emerick Aubameyang, velocíssimo e agudo ponta direita, o japonês poderá até mesmo jogar um pouco mais recuado.
A – Com Reus e Mikhtaryan, Kagawa pode ser útil pelo lado direito, compondo mais o meio-campo e liberando Reus para avançar mais.
B – Sem Reus e com a entrada de um ponta direita, Kagawa pode atuar na esquerda, dando mais liberdade ofensiva ao jogador do flanco contrário.
C – Pelo centro, a melhor opção, Kagawa tem mais liberdade para circular, permitindo, ainda, uma maior troca e rotatividade entre os jogadores.
O certo é que, havendo lugar na linha de três meias do esquema 4-2-3-1 de Jürgen Klopp, não deverá existir muita dificuldade para encaixar Kagawa, que agora enverga a camisa 7. Sua presença no time agrega muita movimentação e criatividade, algo que faltou em alguns momentos na última temporada do time.
Considerando seu preço, algo entorno de £7 Milhões, a aposta faz muito sentido. Shinji ainda é novo (25 anos), conhece o clube e o treinador e precisa se reinventar, assim como o Borussia, que, após a saída de Götze, sofreu com a falta de criação, muito em função da demorada adaptação de Mikhtaryan ao time. Ao final, o negócio já rende frutos, uma vez que, já em sua estreia, contra o Freiburg, Kagawa foi às redes.
>>Vídeo: Kagawa marca em sua reestreia pelo Dortmund<<
O primeiro passo já foi dado. Agora nos resta acompanhar a nova trajetória de um japonês, criado por um brasileiro, maturado na Alemanha, e que, após passar maus bocados na Inglaterra, quer recomeçar.