O ano era 2013. Com uma linha de três meias formada pelo dedicado Bernard, pelo genial criador e distribuidor de jogo Ronaldinho Gaúcho e pelo talentosíssimo Diego Tardelli, o Atlético Mineiro ganhou a América. Curiosamente, em 2015, o Galo parece estar rumando taticamente por semelhantes veredas do vitorioso time treinado por Cuca.
O esquema tático é rigorosamente o mesmo, o exaustivamente praticado 4-2-3-1, composto por uma linha de quatro defensores, dois volantes, três meio-campistas e um atacante mais avançado. Todavia, neste turno, o time pode não ter o mesmo talento, mas ganhou em possibilidades. A defesa mantém o goleiro Victor, o lateral Marcos Rocha e o beque e novo capitão Leonardo Silva. Com boa saída de bola, Jemerson mostrou-se um substituto à altura de Réver e Douglas Santos supera em grande medida o futebol desempenhado pelo regular Júnior César e por Richarlyson. Na defesa, não há, portanto, grandes modificações.
Entretanto, o meio-campo apresenta um formato bem diverso do anterior, apesar da mesma formatação tática. Se antes o Galo contava com a forte pegada de Pierre, ídolo do torcedor, que era, todavia, muito limitado na saída de bola, no presente, a vaga no time titular é ocupada por Rafael Carioca, dono de boa capacidade de marcação – não tão forte quanto a do antecessor –, mas extremamente técnico e útil na saída de bola e primeira construção de jogo. Seu companheiro, na contenção, é Leandro Donizete, outro remanescente.
A principal variação tática do novo Galo é a possibilidade de recuo do armador para eventual avanço de um dos volantes e até mesmo a alternativa do referido meia integrar a linha dos destruidores. Com extremo senso tático, o argentino Jesús Dátolo, que ocupa a vaga de R10, não tem nem de longe a magia do antigo craque, mas é muitas vezes mais efetivo que seu antecessor. Com bom passe, excelência nas bolas paradas e dedicação na recomposição, o Hermano, que está longe de ser um jogador rápido, ganhou muitos pontos no vestibular alvinegro (que procurava preencher o vácuo deixado pela saída de Ronaldinho) e conquistou com méritos a titularidade.
Pela direita do meio-campo, Luan faz papel semelhante ao desempenhado por Bernard, na esquerda, em 2013. Se não é tão habilidoso, iguala – ou até mesmo supera – seu antecessor na dedicação, deixando sempre seu coração na ponta da chuteira e ajudando o lateral Marcos Rocha na recomposição do setor, quando dos avanços do ala. Além disso, o “doidinho” mostra-se muito decisivo em momentos chave.
E no centro do ataque, Lucas Pratto não desempenha mais a função de Jô – como “pivô ou “jogador alvo”, um atleta sempre visado em lançamentos longos, buscando escorar boas bolas para seus companheiros – mas é mais habilidoso e técnico e circula mais pelo campo de ataque.
Notou que só foram tratados 10 jogadores e posições? Isso se deu em função de uma dúvida inflexível na cabeça de Levir Culpi: quem ocuparia a faixa esquerda do meio-campo? No início da pré-temporada, o comandante demonstrou dúvida entre o atacante Carlos e o meia Maicosuel. A princípio, venceu o jovem avançado. Apesar de mostrar enorme solidariedade e de cumprir à risca a famigerada “função tática”, acompanhando os avanços dos rivais pelo flanco, essa não é a praia do garoto, que não dá a movimentação que o time necessita, cria efetivamente pouco e tem destoado do restante da equipe.
Atenta a isso, a direção do Galo, que tem sido extremamente comedida em 2015, contratando pouco, buscou Sherman Cárdenas, algoz alvinegro na Copa Libertadores de 2014 e uma escolha que, pensando racionalmente, faz muito sentido.
O colombiano, baixinho e canhoto, apresenta como um de seus principais trunfos a grande movimentação, circulando bastante pelo campo. Essas características vão ao encontro das de Diego Tardelli, grande craque do time e que deixou o clube no início do ano. Demonstrando tais predicados, Cárdenas pode melhorar a circulação de bola do time e agregar ainda outro diferencial ao time, com a possibilidade de inversão de posições com Dátolo e Luan, algo que fatalmente confundiria os marcadores adversários.
A própria imprensa colombiana e seus mapas de calor recentes demonstram a “inquietude” do jogador no campo, circulando bastante pelo relvado.
“Ele começou em Bucaramanga como ponta esquerdo. Com o passar do tempo, passou a jogar mais pelo centro. É um jogador rápido, com bom chute longo. Acho um bom jogador. Passou por equipes grandes da Colômbia com treinadores exigentes e se saiu bem. No seu melhor momento pelo Nacional, foi falado como possível convocado para a Seleção, mas isso não chegou a acontecer. Pelo estilo de jogo, creio que tem condições boas de se encaixar no Brasil, onde valorizam o jogo bonito,” disse Diego Rueda, do canal colombiano Win Sports, ao Superesportes

Foto: Win Sport – À esquerda, mapa dos passes distribuídos por Cárdenas em partida contra o Hulia, em dezembro de 2014. À direita, seu mapa de calor no mesmo jogo
Dessa forma, com a entrada do novo contratado, a composição da equipe em 2015 tenderia a uma similitude grande com a de 2013, possivelmente menos talentosa, porém mais equilibrada e taticamente mais responsável. O auxílio de Luan ao lateral Marcos Rocha é muito mais necessário do que a mesma prática pelo lado esquerdo, uma vez que Douglas Santos – que embora vá bem ao ataque – não é tão ofensivamente efetivo quanto o ala oposto. Dessa forma, Cárdenas encaixaria como uma luva pelo lado esquerdo do meio-campo alvinegro – todavia, sem ficar engessado na referida faixa.
A princípio, a contratação, anunciada pelo twitter do presidente Daniel Nepomuceno, faz total e absoluto sentido, satisfazendo as necessidades da equipe. Não obstante, isso terá que se provar em campo, onde Cárdenas terá também de quebrar um tabu, tornando-se o primeiro colombiano a corresponder às expectativas no Galo, algo que Alexander Escobar, ídolo do América de Cali, Gustavo Del Toro e Wason Rentería não conseguiram em suas passagens por Belo Horizonte.
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