Quantas vezes nos deparamos com jogadores, em outras nações, detentores de vínculos pátrios diversos e que contam com a possibilidade de convocação por mais de uma seleção? Em alguns países, sobretudo nos antigos colonizadores, isso é até comum. O curioso é que em nosso território isso é fato raro e, normalmente, quando acontece, é em prejuízo tupiniquim, como no caso recente de Thiago Alcântara. Apesar disso, recentemente, os esforços da “preguiçosa” Confederação Brasileira de Futebol renderam frutos.
Prodígio canarinho, Andreas Pereira é filho do ex-jogador Marcos Pereira, que trilhou seu caminho no futebol belga, vendo seu filho nascer em Duffel, cidade localizada a cerca de 40 quilômetros da capital Bruxelas.
Assim, em princípio, o garoto iniciou sua trajetória internacional representando os Roten Teufel, nos escalões sub-15, 16 e 17. Situação que se alterou com a intervenção do ex-treinador das Seleções Sub-20 e Olímpica do Brasil, Alexandre Gallo.

Alexandre Gallo, em entrevista ao jornal “O Dia“, confirma preocupação da CBF em não perder jogadores brasileiros
Buscando evitar o êxodo de jovens talentos de origem brasileira, o ex-comandante fez valer a chamada publicada no Estadão em fevereiro de 2014 (“CBF vai atrás de jogadores brasileiros na Europa ‘marcar território’”) e conseguiu convencer Andreas a reconsiderar sua decisão e defender a Amarelinha.
Mas quem é Andreas Pereira?
A carreira de Andreas começou no modesto Lommel United, na mais tenra juventude. Não obstante, aos nove anos de idade já se destacava e mostrava um talento diferencial, razão pela qual fechou com o PSV Eindhoven, em 2005. No clube neerlandês, seguiu brilhando e permaneceu até 2011, ano em que brilhou na Manchester United Premier Cup e, a despeito dos interesses de Arsenal, Chelsea e Liverpool, foi convencido por Sir Alex Ferguson e fechou com os Red Devils.
“Eu disse à Bélgica que não queria mais jogar e queria focar em Manchester. Eles me ligam aqui, mas quero jogar pelo Brasil no futuro. O Gallo veio aqui, falou que verá outros jogadores na Europa, e me falou que estou fazendo um bom trabalho e seguir assim. Pela frente, vemos se vou ser convocado. Tomara que sim. É um sonho jogar pela Seleção Brasileira. Joguei três ou quatro anos pela Bélgica, mas não é a mesma coisa. Não me sentia em casa. Sou torcedor brasileiro e o Brasil é a melhor equipe do mundo”.
Tendo sido contratado ainda aos 15 anos pelo United, Andreas demorou um pouco a estrear em jogos oficiais, o que aconteceu em abril de 2012, em partida contra o Sheffield Wednesday, representado o elenco sub-18 do clube de Manchester. Na temporada 2012-2013, chegou ao elenco sub-21, considerado na Terra da Rainha o último estágio antes da ascensão ao grupo profissional. Todavia, jogou só uma partida: a vitória contra o rival Liverpool, na semifinal da Premier League Sub-21.
Sua afirmação na categoria veio em 2013-2014, com o jogador atuando em 22 jogos de juniores, incluindo partidas da Premier League Sub-21 e da UEFA Youth League. No período, além de demonstrar uma peculiar qualidade técnica, chamou atenção pela versatilidade. Tendo sido usado em quase todas as posições do meio-campo, o meia-atacante demonstrou muita adaptabilidade, característica valiosa no futebol moderno. Chamando atenção pela precisão de seus passes, visão de jogo e habilidade, ganhou sua primeira convocação em maio de 2014.
A partir do primeiro chamado, passou a ser figurinha carimbada nas convocações de Gallo e, com a renovação do comando do Manchester United, no início da temporada 2014-2015, ganhou um lugar transitório no elenco profissional, treinando na maior parte das vezes com os grandes craques de Louis van Gaal, mas seguiu atuando principalmente pelo elenco sub-21. Na temporada, ganhou sua primeira oportunidade entre os profissionais na derrota para o MK Dons, pela League Cup, e voltou a ser utilizado durante 13 minutos da vitória dos Red Devils contra o Tottenham, pela Premier League, em março deste ano.
De contrato recém-renovado, vigendo até o fim da temporada 2017-2018, e laureado com o prêmio de melhor jogador sub-21 do United em 2014-2015, a perspectiva para a próxima temporada é de maior aproveitamento em um elenco recheado de estrelas para a faixa ofensiva e, no ato da assinatura do novo vínculo, o garoto foi elogiado por seu comandante:
“Estou muito feliz com a renovação. Andreas tem todos os atributos para ser parte de nosso primeiro time futuramente: grande talento somado a bom apetite para aprender”, disse o holandês.
Convocado por Gallo – que foi demitido – para o Mundial Sub-20, Andreas começa a desfrutar do status de futura estrela também no Brasil, deixando de ser conhecido como o “belga que joga na Seleção” e sendo mais lembrado pela qualidade de seu futebol. Seu caminho, absolutamente particular e distinto daquele traçado pela maioria dos jogadores brasileiros, vem sem trabalhado com muito carinho e observação, tanto no clube quanto na Seleção Sub-20, que agora é comandada por Rogério Micale, ex-Atlético-MG.
Se o nome “Andreas” nos transmite a estranha impressão de que há um estranho no ninho, o sobrenome “Pereira” não deixa dúvidas: belga de nascimento, o camisa 44 do Manchester United é brasileiríssimo e tem tudo para fazer parte da reinvenção do futebol canarinho.
Olho Nele!