O Brasil conheceu sua primeira derrota na nova “era Dunga”. A vitória na primeira rodada já não tinha sido convincente e o revés frente a Colômbia entrega os problemas a serem corrigidos pelo treinador. A dependência excessiva de Neymar e o pouco volume ofensivo talvez sejam os mais urgentes, uma vez que o Brasil vai ter que propor o jogo contra quase todos adversários dessa Copa América.
José Pekerman, treinador colombiano, viu o jogo contra o Peru. Viu que, além da “Neymardependência”, o 4-4-2 brasileiro depende muito das jogadas pelos flancos. Contra os peruanos, 44% dos ataques foram pela esquerda (lado de Neymar), 37% pela direita e apenas 19% pelo centro. O ataque verde e amarelo vive, basicamente, de triangulações pelas beiradas. Os volantes servem para cobrir os laterais, desarmar e tocar de lado, quase não ajudam na criação.
Pensando nisso, Pekerman tinha dois problemas para resolver: parar Neymar e bloquear as beiradas do campo. O treinador então desfez o 4-4-2 em losango do primeiro jogo e foi para a segunda rodada com duas linhas de quatro, mesma formação escolhida por Dunga. O time brasileiro iniciou com Fernandinho e Elias na volância; Fred (esquerda) e Willian (direita) pelas pontas; Neymar como atacante caindo pela esquerda e Firmino mais à direita. A ideia de jogo era a mesma: saída de bola curta com os zagueiros, laterais ou volantes até encontrar Neymar. Mas a Colômbia não deixava.
Os Cafeteros bloqueavam o lado esquerdo criando superioridade numérica. Enquanto o Brasil deslocava Neymar e mais dois jogadores para tentar as triangulações, a Colômbia defendia com quatro e fazendo marcação individual por setor – o que significa dizer que, enquanto a bola estava numa determinada região, cada colombiano colava em um brasileiro e ia até o fim da jogada. Observe a imagem abaixo:

Foto: Reprodução/SporTV – Superioridade numérica colombiana: quatro defensores contra três atacantes
Na cena, Neymar tem a bola pela esquerda com Zuñiga e James próximos. Zapata acompanha Fred e Sánchez vigia Firmino. Quatro colombianos contra três brasileiros, sem nenhum outro jogador aparecendo para dar suporte. E o Brasil seguiu insistindo nas jogadas pela esquerda. Na imagem seguinte, Filipe Luís tem a bola, Firmino e Neymar estão próximos, mas existem quatro jogadores de amarelo para travar o lance e recuperar a bola. Mais uma vez, sem apoio dos volantes, que guardam posição para cobrir os avanços dos laterais.

Foto: Reprodução/SporTV – Novamente, Brasil ataca somente com três homens e não sai do bloqueio adversário
Depois de tanto insistir com Neymar pela esquerda, Dunga fez uma mudança que facilitou ainda mais a vida da Colômbia: isolou o camisa 10 na frente, entre os zagueiros. Talvez a proposta fosse tirar um defensor da esquerda ou atacar mais pelo centro e explorar os espaços nas costas dos volantes adversários, mas não deu certo. A Colômbia passou a se preocupar um pouco menos com a ponta esquerda brasileira e tirou o melhor jogador do Brasil do restante do primeiro tempo.
Sem Neymar por ali, os Cafeteros abriram mão da superioridade numérica e defenderam no três contra três. Enquanto isso, o craque brasileiro estava encaixotado entre os zagueiros, com dois ou três marcadores próximos. Observe no frame abaixo como, novamente, não existe apoio dos volantes brasileiros. Apenas o árbitro ocupa um espaço enorme na entrada da área colombiana enquanto Zapata faz a cobertura do lance.
Com seu melhor jogador sumido da partida, o desempenho do Brasil foi minguando, e a Colômbia crescendo. O time de Pekerman roubava a bola e acionava James e Cuadrado para transições rápidas. Quando não fazia isso, recuava a bola até os defensores e saía jogando curto com os laterais. Até aí, era parecido com o Brasil, mas a diferença estava nos pontas. Enquanto os brasileiros (Fred e Willian) trabalhavam mais pelos lados, os colombianos (Cuadrado e James) centralizavam, abrindo espaço para os laterais subirem.
Dessa forma, a seleção colombiana formava uma linha de quatro jogadores, com os laterais abrindo o campo e os pontas (agora pelo centro) criando as jogadas. Os dois atacantes ficavam à frente, mais próximos da área, e caso a bola fosse perdida, os dois volantes estavam logo atrás para tentar matar o lance o quanto antes. Organização que rendeu ao time trocas de passes, manutenção da posse de bola e algumas jogadas de finalização, embora o gol tenha saído na bola parada.
A entrada de Philippe Coutinho no intervalo esboçava um Brasil mais criativo e menos previsível. Mas nada disso aconteceu. O time de Dunga ficou na mesma, insistindo nas jogadas laterais e parando na defesa amarela. Outra vez, ataque pelo flanco com três homens, defesa postada com quatro e bola perdida. Note na imagem abaixo como o ataque brasileiro é bem dividido: lateral, ponta e atacante de um lado, lateral ponta e atacante do outro. Não existe um apoio de volante, embora exista espaço entre os zagueiros para uma infiltração. E a Colômbia respondia dividindo sua defesa ao meio: quatro para cada lado, assegurando a superioridade numérica.
Além do pobre desempenho ofensivo do Brasil, a Colômbia fez uma excelente partida na parte defensiva. Sánchez, o melhor em campo, e Cuadrado foram essenciais no bloqueio do lado esquerdo brasileiro. Juntos, totalizaram 17 desarmes, a maioria naquele setor. Valencia, volante pela esquerda, também foi bem na hora de roubar a bola, sete desarmes.
A vitória da Colômbia serve de alerta para Dunga. É preciso pensar em alternativas, não dá para jogar tudo nas costas de Neymar. A partida contra Venezuela deve ser o início desse processo, é a oportunidade que o treinador brasileiro tem de provar que o time pode ser competitivo sem seu principal jogador. Variar o lado da jogada, pensar em um volante que participa mais da construção e mais movimentação no ataque. Se quiser vencer a Copa América, precisa aprender a propor o jogo, e isso requer alternativas.