Há exatos 60 anos, o fantástico e inolvidável time do Real Madrid, que produzia frenesi nos sortudos que tinham a possibilidade de acompanhar a genialidade dos astros Alfredo Di Stéfano e Francisco Gento, bateu o esquecido Stade de Reims, clube hexacampeão francês que tinha em Raymond Kopa seu grande destaque. Saía dali o primeiro campeão europeu da história, a equipe que até hoje pode se orgulhar de ser a maior laureada de toda a competição.
Se hoje o crescimento da expectativa de vida da maior parte dos países do mundo não nos deixa dizer que 60 anos é o tempo de uma existência vivida, ainda assim, não há como desconsiderar a quantidade de acontecimentos que podem se passar durante seis décadas, ou 3/5 de século.
Da final de 1956, que aconteceu em um dos grandes palcos do futebol mundial, o Parc des Princes, em Paris, até 2015, o mundo gradativamente passou a conviver com a memória da grandiosidade de talentos ímpares e esquadras inesquecíveis e invencíveis. Grandes treinadores ganharam páginas imortais e diversos países passaram a revelar o que muitas vezes ficava restrito à esfera doméstica. 39 equipes foram finalistas; 22 foram campeãs; e uma linhagem composta pelos melhores foi gerada.
Supremacias foram criadas, como exemplificam as do Real Madrid na década de 50, do Ajax no início dos anos 70 ou do Bayern de Munique, na sequência do time holandês; e grandes finais foram vistas, como a surpreendente vitória do Manchester United, em 1999, ou o Milagre de Istambul, protagonizado pelo Liverpool, em 2005.
Imponentes capitães marcaram seus pés na história, figuras da estirpe de Paolo Maldini, John McGovern, Bobby Charlton e Franz Beckenbauer; craques como Eusébio, Johan Cruyff, Sandro Mazzola, Ronaldinho Gaúcho, Cristiano Ronaldo e Lionel Messi decidiram conquistas; e treinadores como Jock Stein, Béla Guttmann, Rinus Michels, Brian Clough, Ernst Happel, Sir Alex Ferguson, Carlo Ancelotti e Pep Guardiola inscreveram seus nomes na lista dos mais notáveis.
Por 10 vezes, as marcas penais decidiram destinos, mas, em cinco turnos, bastaram alguns minutos adicionais, em prorrogações. Duas vezes, os maiores craques do planeta jogaram sob a supervisão de mais de 100.000 apaixonados fãs, no Santiago Bernabéu, em 1957, e no Hampden Park, em 1960.
Houve também zebras! Quem diria que o Borussia Dortmund de Ottmar Hitzfield bateria aquela Juventus, de Zinedine Zidane e Marcelo Lippi? Ou ainda que o Porto de Paulo Futre e Rabah Madjer deixaria o Bayern de Munique de Lothar Matthäus, Andreas Brehme e Dieter Hoeneß comendo poeira?
Ao todo, 10 nações levaram a segunda taça mais pretendida no mundo do futebol para casa – Espanha, Itália, Inglaterra, Alemanha, Holanda, Portugal, França, Escócia, Romênia e Iugoslávia –; e outras três – Grécia, Bélgica e Suécia – chegaram perto.
Ah, estavam faltando eles: os artilheiros! Até bem pouco tempo, Raúl González reinava soberano em uma lista que conta com implacáveis senhores da prolificidade, caras como Ruud van Nistelrooy, Thierry Henry, Andriy Shevchenko e Filippo Inzaghi, todavia, nos últimos anos a invasão de dois extraterrestres mudou esse quadro e Messi e Cristiano Ronaldo assumiram a ponta. A despeito disso, dentre os maiores, ninguém conseguiu até hoje apagar o recorde de Di Stéfano, o hispano-argentino-colombiano que impôs uma média de 0,84 gol por jogo na competição continental.
Neste momento, 60 temporadas após o início de um sonho infinito, Real Madrid (com 10 conquistas), Milan (7), Bayern de Munique (5), Barcelona (5) e Liverpool (5) compõem o grupo dos maiores laureados. E, antes que eu me esqueça – afinal, 60 anos não são 60 dias –, três espanhóis estão no topo da lista daqueles que mais vezes encheram os olhos do mundo de magia: Xavi, Iker Casillas e Raúl. E vejam só: apenas um atleta dentre os 10 mais assíduos não é europeu. Sua nacionalidade? Brasileira. Seu nome? Roberto Carlos!
Então é isso: 60 anos. Quanta coisa essa vivida competição viu; quantos corações bateram mais forte por sua causa; quantas glórias foram reveladas e memórias criadas. Após todo esse tempo, não obstante, só há uma certeza: o gostinho de quero mais. Queremos mais craques imprevisíveis, esquadrões invencíveis e estrategistas com muita cabeça e coração. Ansiamos por mais embates memoráveis e pelo surgimento de novas potências. Queremos ver tanto os velhos campeões quanto as novas forças no pódio.
Desejamos mais Champions League, pelo menos por mais 60 anos.