Um ano dos 7 a 1 e efetivamente nada mudou no futebol brasileiro em geral. No que se diz respeito a campo e bola, mas também na preparação, gestão e passando até por nossa imprensa especializada. A data de hoje não é comemorativa – ou ao menos não deveria ser – mas deveria ser reflexiva.
Aqui, no espaço tático por vocação, haverá reflexão. Ou melhor: uma releitura da desastrosa tarde de oito de julho de 2014. Desastre que parte do campo e atinge o emocional – como bem destacou André Rocha na época – e não o contrário.
Voltemos no tempo…
Ao perder Thiago Silva e, principalmente, Neymar contra a Colômbia e vista a vantagem campal alemã, o mundo concluiu que um meio-campo mais recheado, com três homens de boa marcação e qualidade no passe (Luiz Gustavo, Paulinho e Ramires/Fernandinho) seria a melhor alternativa para enfrentar os alemães.
https://www.youtube.com/watch?v=lyaMYgQe0Xk
Segundo afirmam Daniel Alves (em entrevista ao programa Bola da Vez, da ESPN) e Dante (em entrevista pós-Copa), Felipão treinou a seleção com Willian, no esquema 4-1-4-1, durante toda a semana, mas repentinamente mudou – e tentando enganar/despistar, acabou se equivocando. Escalou Bernard e manteve o 4-2-3-1 com Hulk e Oscar na linha de três atrás de Fred. Fernandinho ganhou de vez o lugar de Paulinho e a ideia até pareceu boa para explorar as costas do alto e lento Höwedes , “improvisado” por ali.
Joachim Löw manteve a formatação e as peças de sua equipe. 4-1-4-1 com Lahm na lateral e Schweinsteiger na frente da zaga. Özil e Müller abertos, Kroos e Khedira chegando de trás e Klose à frente.
Os primeiros minutos foram de um Brasil de linhas avançadas com pressão média/alta. Os alemães tentaram trocar passes e se ambientar no fervoroso Mineirão. A torcida havia comprado a ideia de ser o 12º jogador, pressionando os rivais. A primeira finalização do embate foi de Marcelo e não passou tão perto assim do gol de Manuel Neuer, mas serviu para animar o jogo brasileiro.
Porém aos poucos a Alemanha foi colocando a bola no chão e trocando passes, avançando linhas e entrando de fato no jogo. Na virada de Özil, Kroos, livre, acertou as costas de David Luiz e indicou que algo estava errado com a marcação brasileira… Facilmente envolvida no escanteio que resultou no gol de Müller, como ilustramos abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=6OjNpFjXN74
Novamente a Alemanha diminui o ritmo, porque sabia que o Brasil iria, até de maneira desorganizada, atrás do empate. Então chamou a seleção de Felipão, que avançou muita gente, mas não viu seus volantes iniciarem o jogo, como haviam feito os alemães. Então David Luiz começou seus avanços peculiares, que deixavam a defesa exposta.
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Avanço desesperado, que custou o segundo tento alemão. Com Fernandinho furando e Toni Kroos recebendo livre, de frente para a grande área. Outra vez o camisa quatro ficou olhando, assim como todo o sistema defensivo, e de uma bela tabela – rápida e precisa – resultou o gol do maior artilheiro da história das Copas do Mundo: Miroslav Klose.
https://www.youtube.com/watch?v=39ofSnWhqAQ
Daí para frente, foi só ladeira abaixo.
O tal apagão, que de fato não existiu, escancarou a disparidade das seleções como elenco, conjunto e ideias de jogo. Özil achou Lahm livre entre Marcelo e Hulk. O lateral cruzou para Müller, mas a bola sobrou para Kroos que de primeira marcou um lindo gol:
https://www.youtube.com/watch?v=SKSprr4wEec
A saída de bola seguinte exprimiu o baque emocional e evidenciou a inteligência alemã. Kroos subiu para pressionar e roubar a bola de Fernandinho. Quatro contra quatro, Kroos rouba a bola, tabela com Khedira e marca o quarto gol:
Hummels subiu e o afobado bote de David Luiz abriu a defesa outra vez…
Mano a mano, troca de passes em alta velocidade e gol de Khedira. Cinco a zero para os alemães em quase trinta minutos.
Felipão voltou do intervalo com Ramires e Paulinho nas vagas de Fernandinho e Hulk. Armou o meio mais consistente, com três homens. Tentando jogar com marcação mais adiantada e aproveitando o pouco ímpeto alemão, que já tinha a semifinal definida e fora instruído por seu treinador para “pegar leve”, para não humilhar os anfitriões:
“Durante o intervalo, falei com cada um dos jogadores, exigindo que evitassem uma arrogância para com os derrotados. Para mim, era importante não humilhar os brasileiros”, disse Löw, em entrevista reproduzida pelo jornal O Globo.
Schürrle reoxigenou o ataque alemão, que voltou a comandar o jogo… No sexto gol, quatro alemães contra sete brasileiros, vantagem evidente, mas que se esfarelou com a desorganização e a boa troca de passes. E então o próprio Schürrle marcou:
Em outra saída afobada de David Luiz, o passe rápido de Müller achou Schürrle, outra vez livre! Espaço e tranquilidade para marcar o sétimo e fechar o caixão brasileiro:
https://www.youtube.com/watch?v=lJWtFPvbRJg
O maior massacre da história da Copa do Mundo choca.
Incomoda, machuca e exige reflexão. Os 7 a 1 não são só a derrota de um time mal armado ou de um momento de apagão. É a derrota de um estilo de jogar e de um tipo de gerir futebol. O anfitrião Brasil foi goleado em frente a sua torcida em plena semifinal do Mundial. É o tipo de resultado que é completamente inesperado e inaceitável. Revela um desnível absurdo entre os oponentes.
Um ano se passou, pouco se refletiu, menos ainda se mudou por parte da CBF e seus cartolas…
E assim, a bola segue rolando e o Brasil segue sendo goleado dentro e fora dos gramados.