
Canteros perplexo com um objeto que não lhe parece mais familiar (foto arquivo)
Existe uma expressão criada especificamente para contextos nos quais o Flamengo se envolve que a maioria dos flamenguistas detesta: Flamengada. Consiste basicamente naquele momento em que o torcedor rubro-negro deixa de lado sua arrogância natural, sua fé inquebrantável, seu fanatismo religioso e diante de uma situação completamente e estupidamente favorável à glória, ele chega à conclusão de que o time chafurdou na lama fétida do fracasso.
A flamengada mais antiga é do histórico primeiro Fla x Flu. É bem conhecida. Brigas, intrigas, dissidências… e nascia o futebol no Flamengo!! No primeiro confronto, todos pensaram: “Virão com a faca nos dentes!! Com sangue nos olhos!!!”. Perderam de 3×2. Flamengaram.
Notem que a flamengada não é uma derrota qualquer, ela envolve ritos. A mais famosa, sem sombra de dúvida, é contra o América do México. O time venceu bem no México. Convenceu. Jogo de volta, Maraca lotado, clima de festa, 2 gols do gordinho Cabañas na derrota por 3 x 0, desclassificação, crise, vexame.

O paraguaio Salvador Cabañas foi o carrasco do Flamengo em 2008 (foto arquivo)
O Flamengo de 2015 é um entusiasta da difícil arte de flamengar como somente o Flamengo sabe fazer. Apunhala os Césares sofridos, como bem dizia o Nelson, várias e várias vezes e com requintes de crueldade, porque lhes oferece a esperança efêmera; o mais afiado punhal.
Dos 10 clubes que constituem a atual segunda página da tabela do brasileirão, o Flamengo empatou em condições precárias contra o Sport, perdeu o primeiro jogo para o Fluminense, perdeu o primeiro para o Cruzeiro, perdeu os 2 jogos para o Figueirense (sendo o primeiro um vexame e o segundo um chocolate), perdeu o primeiro para o Avaí (com gol irregular dos catarinenses), perdeu o segundo para o Coritiba (com 70 mil torcedores no estádio), perdeu os 2 jogos para um dos piores Vascos da história (somatizando as eliminações do Estadual e da Copa do Brasil). Ganhou 2 vezes da limitada Chapecoense e do fraquíssimo Joinville. Ainda não jogou a segunda partida contra o Goiás nem contra o CAP (de quem ganhou em casa, mas de quem NUNCA ganhou no Paraná em Brasileirões). Não conseguiu ganhar a patética Taça Guanabara, porque não venceu o Nova Iguaçu. Virou pouquíssimos placares adversos.
2015 entra para a História do clube como o ano em que mais se flamengou… Se por uma destas ironias do futebol a vaga da libertadores cair no colo rubro-negro, porque por esforço próprio será dificílimo, a base torta do elenco frouxo e torto de 2015 deve ser reformulada do massagista ao departamento médico (ahhhhh o departamento médico!!!!),do roupeiro à contratação milionária. Tudo deve ser pensado e repensado, porque na competição intercontinental sempre haverá Emelecs e Américas…
Contra o Figueirense, que luta com todas as forças para permanecer na Série A, o Flamengo teve 70% de posse de bola impotente. Precisava de uma combinação improvável de resultados para dormir no G4. SP, Palmeiras e Inter deveriam perder seus respectivos jogos. A combinação aconteceu e o Flamengo perdeu de 3 x 0. Flamengou.
Existe o outro lado da moeda, é claro. Os gols de Rondinelli, Pet, Elias e Márcio Araújo… Os Fios, Obinas e Brocadores… As improváveis arrancadas… Mas a flamengada existe e é um padrão histórico. Nestes tempos ela só está… rotineira.