A temporada atual do futebol europeu é a 14ª desde o último título português do Sporting CP. A cobrança que paira sob o clube por bons resultados, sobretudo com a recente retomada do controle das ações pelo Benfica, é tão grande que levou-o a contratar justamente o último treinador Encarnado para a atual campanha. Esta tacada vem mostrando-se positiva em muitos aspectos e um deles, sem dúvidas, reside no ataque leonino, no qual o argelino Islam Slimani vem se destacando.
Recentemente, em entrevista ao jornal do Sporting, Jorge Jesus, atual comandante do time, comentou que Slimani “só começou a jogar aos 23 anos. É um jogador cheio de defeitos técnicos e táticos. Agora, ele tem aquilo que Deus lhe deu, que é uma capacidade física enorme. É um jogador muito forte no jogo aéreo, tanto a atacar como a defender, e ainda falta muita coisa para poder chegar ao produto final da valorização que pode ter como jogador”.
Tal fala vai ao encontro do que muito se disse acerca do goleador sportinguista nas últimas temporadas. Contratado em 2013, o jogador marcou 10 vezes em sua primeira temporada, 15 na segunda e na atual já computa 20 tentos, o que inclui gols contra Benfica e Porto. Isso sinaliza sua evolução enquanto futebolista. No entanto, como ele próprio diz em boa parte das entrevistas que concede, sempre é acusado de só ter qualidades no jogo aéreo e de ser um atleta muito agressivo.
Quanto à primeira afirmação, há poucas dúvidas de que sua melhor faceta é vislumbrada nas ocasiões pelo ar. Alto e muito forte, Slimani tem uma capacidade de disputar espaço com zagueiros nestas ocasiões que chama a atenção. No atual campeonato português, sete de seus 16 gols saíram de sua cabeça. Este dado também é importante pela análise contrária – mais da metade de seus tentos não surgiu da bola aérea.
No tocante à segunda, é procedente a alegação de que o argelino é agressivo, mas essa afirmação não deve ser encarada como deslealdade e sim como consequência de seu estilo. Slimani tem no jogo físico uma grande virtude e é claro que na busca por espaço isso o leva a eventuais excessos, como confirmam os 12 cartões amarelos recebidos em 31 jogos em 2015-2016. Lutar contra isso é batalhar contra a própria natureza do atacante e pode até mesmo ser contraproducente.
Seu desempenho com a camisa da Seleção Argelina também melhorou desde que passou a ser treinado por Jorge Jesus. Em quatro partidas disputadas no período, Slimani balançou as redes cinco vezes.
Tudo isso o levou a ser alvo de especulações envolvendo West Ham, Leicester, Everton e até mesmo o poderoso Manchester United, em uma possível transferência na última janela europeia. Não se sabe até onde houve verdade nisso. O certo é que, por hora, o jogador segue em Alvalade com contrato até o final da temporada 2019-2020.
A coroação de seu bom momento veio nos últimos dias. Em votação promovida pelo site da renomada France Football, Slimani foi eleito o melhor jogador africano no mês de janeiro. É pouco para um jogador rotulado pela “falta de talento com os pés”? No período, foram oito tentos em seis partidas.
É certo que o trabalho de Jorge Jesus tem influência na evolução do jogador, tanto nos quesitos técnicos quanto na confiança, algo que o mesmo deu a entender em entrevista à RTP, no último dia 10:
“É um treinador de classe mundial. E eu não estou exagerando. O trabalho diário com ele é um verdadeiro prazer. Faz-nos progredir. Às vezes, ele enfatiza detalhes que podem parecer irrelevantes e, de repente, entendemos o que ele está a imaginar. Taticamente ele é um gênio.”
Com Jesus, Slimani tem sempre atuado com um parceiro. Como no último Benfica que treinou, em que contou com a dupla brasileira formada por Jonas e Lima, o 4-4-2 é a tática predominante no Sporting. O argelino tem a habitual parceria de Bryan Ruíz e também trabalhou com os colombianos Téo Gutierrez e Fredy Montero, recém-transferido ao futebol chinês. Os Leões até contrataram Hernán Barcos recentemente, goleador conhecido do público brasileiro, mas será tarefa difícil para o argentino tomar a posição de Slimani.
O camisa 9 sportinguista pode não ser um grande atacante, cheio de predicados técnicos, mas supre as necessidades de seu clube e vem sendo muito bem aproveitado desde que Jorge Jesus trocou o Estádio da Luz pelo Alvalade. Bolas chegam-lhe tanto pelos flancos quanto pelo meio e as balizas têm sido destino regular – só não é o artilheiro do Campeonato Português porque Jonas vive momento assombroso.
Seja como for, sua forma e evolução são dignos de nota, assim como a maneira com que Jorge Jesus potencializou seu desempenho. Como disse o treinador, o jogador ainda está sendo lapidado e pode melhorar ainda mais.