Era inacreditável, impensável. Mas lá estava La Pulga vestindo a camisa tricolor em pleno Arruda. Queria dançar, chamava os zagueiros adversários e relembrava seus melhores momentos no Barcelona. A torcida do Santa não parava em nenhum minuto de jogo e enaltecia: “Messi! Messi!”.
Assim sonhou Naná, grande percussionista brasileiro, torcedor do Santa Cruz e autor de tabelinhas memoráveis com Milton Nascimento, Caetano Veloso e B.B. King, entre muitos outros craques.
Grande fã do atual melhor do mundo, Juvenal de Holanda Vasconcelos, ou melhor, Naná Vasconcelos, não devia nada para o argentino. Se Lionel foi eleito por cinco vezes o melhor do mundo em sua profissão, o músico brasileiro também o foi em oito oportunidades, todas pela revista Down Beat, além de conquistar, também por oito vezes, o prêmio Grammy.
Apaixonado por futebol, ele sentia falta daquele legítimo jeito brasileiro de jogar, que envolvia arte, drible, ginga e, é claro, dança. Esse amor pelos passos ritmados do jogo rendeu uma das grandes músicas brasileiras sobre o esporte bretão, chamada “Futebol”. Seu refrão traz uma frase que pode representar o que muitos brasileiros esperam do futuro no esporte: “Não deixe o futebol perder a dança”. Uma sentença e um apelo que merece ser gritado pelos estádios não só daqui, mas do mundo inteiro.
Antes de nos deixar no dia 9 de março, Naná deu uma entrevista para a Veja em que comparou as duas artes: “Na música, o primeiro instrumento é a voz e o melhor instrumento é o corpo. No futebol, o primeiro instrumento é a bola e o melhor instrumento é o corpo.”
Esse grande brasileiro, símbolo de criatividade, simplicidade e genialidade, deixou grandes mensagens. Que nosso futebol seja o seu espelho e volte a ter passos únicos, suingue envolvente e dança triunfante. Quem sabe um dia Messi não faça uma homenagem ao fã ilustre e realize o primeiro parágrafo deste texto. Sonhar não custa nada – e com as músicas de Naná Vasconcelos, nossos sonhos são ainda melhores.
Descanse em paz, gênio tricolor.