A Argentina volta a sorrir

Argentina's Lionel Messi (C) and teammates celebrate after winning the Conmebol 2021 Copa America football tournament final match against Brazil at Maracana Stadium in Rio de Janeiro, Brazil, on July 10, 2021. - Argentina won 1-0. (Photo by CARL DE SOUZA / AFP)

Os nossos ‘hermanos’ vivem uma grande fase, e estão motivamos para mantê-la até a Copa do Mundo

A conquista da Copa América em julho foi um divisor de águas para a Argentina. O último título relevante, da seleção principal, havia sido a conquista da competição continental no ano de 1993. A geração de Messi e companhia sofria pressão de todos os lados por conta do jejum e o craque argentino era o mais cobrado por não conseguir trazer seu sucesso individual e no Barcelona para a equipe nacional.

Por isso, quando o árbitro apitou o final do jogo no Maracanã, no dia 10 de julho, com a vitória por 1×0 sobre o Brasil, foi como se um peso enorme houvesse sido removido dos ombros dos jogadores, comissão técnica, dirigentes e torcedores argentinos. O jejum de 28 anos sem títulos havia acabado.

E agora, com esta “liberdade”, a Argentina pode jogar livremente, sem pressão de resultados imediatos, e construindo, aos poucos, uma equipe forte e confiante. E é exatamente isso que o técnico Lionel Scaloni tem feito.

O período de “vacas magras”

A Seleção da Argentina sempre esteve no hall das maiores equipes nacionais do mundo. Ter em seu histórico a conquista de duas Copas do Mundo (1978 e 1986) e um dos maiores atletas do planeta (Diego Maradona), sem contar as outras conquistas continentais e bom desempenho em outros torneios.

No entanto, parecia viver somente à sobre do que era, pois nos anos seguintes, as conquistas de expressão se resumiram a duas Medalhas de Ouro Olímpicas (2004 e 2008), com jogadores com idade até 23 anos. A equipe principal não conseguia conquistas mais troféus. No entanto, foi uma época em que revelaram bons jogadores, inclusive Lionel Messi.

Tudo parecia mudar quando, em 2014, na Copa do Mundo realizada aqui no Brasil, chegaram à final diante da Alemanha, mas caíram com o gol de Götze e o título mundial dos alemães. A partir deste momento a seleção só teve momentos ruins.

Por duas vezes chegou à finais de Copa América, e por duas vezes perdeu para o Chile. Além disso, acumulava derrotas no confronto direto com seu maior rival, o Brasil. Crise também nos bastidores, com problemas dentro da Asociación del Fútbol Argentino (AFA).

Parecia que a Seleção Argentina estava fadada ao colapso, principalmente após a queda diante da França na Copa de 2018, quando diversos jogadores importantes, como Javier Mascherano e Lucas Biglia anunciaram a aposentadoria internacional. Messi também chegou a anunciar que não mais vestiria a camisa albiceleste, pelo menos no curto prazo e até ver mudanças significativas na condução do futebol. Foi um momento complicado.

O efeito Scaloni

Foi com a efetivação de Lionel Scaloni que as coisas começaram a funcionar. Diante dos problemas da AFA, vários técnicos rejeitaram o convite para comandar a seleção, entre eles nomes importantes do futebol europeu como Diego Simeone e Mauricio Pochettino, e Marcelo Gallardo, multicampeão com o River Plate.

Após a eliminação para os franceses, Jorge Sampaoli deixou o comando e Scaloni, então seu auxiliar, topou o desafio como interino. Chegou cercado de críticas e desconfiança, estas vindo inclusive de Maradona.

Mas o jovem técnico não desanimou e topou a chance. apesar de ter sido somente auxiliar técnico de Sampaoli no Sevilla e na seleção antes disso. Era a chance de ouro que precisava para se tornar treinador.

Scaloni tem 43 anos e nasceu em Pujato, cidade a 35 km de Rosário. Foi lateral direito enquanto jogador e atuou em clubes como Newell’s Old Boys, Estudiantes, Deportivo La Coruña (melhor época da carreira, conquistando o Campeonato Espanhol de 1999-2000), Lazio e Atalanta (onde encerrou a carreira).

Em 2019, o Globo Esporte fez um recorte sobre a carreira do então recente treinador, e vale a pena ser lido. Foi uma apresentação para o jogo contra a Seleção Brasileira, na Copa América.

Assim que assumiu, a primeira coisa que o técnico buscou foi se integrar aos jogadores, montar um grupo que se sinta seguro e motivado. Era fácil encontrá-lo participando das atividades com os atletas, como em rodas de “bobinho”. Aos pouco ele tentava se encaixar neste grupo rachado e desconfiado. Nos primeiros jogos na Copa América comemorava sozinho quando a Argentina fazia gols.

Não foi fácil este inicio do ex-lateral em seu novo cargo. Viveu altos e baixos, sempre sob o olhar desconfiado e inquisidor da imprensa e torcida argentina. Um dos momentos mais complicados foi a derrota para a Venezuela por 3×1 , atuando em casa em 2019, o primeiro jogo daquele ano e já com Messi de volta após a sua aposentadoria temporária.

Ainda em 2019 houve a Copa América disputada no Brasil. Os argentinos chegaram à semifinal, sendo derrotados pelos donos da casa por 2×0 (e que viria conquistas o título). Esta então, viria ser a última derrota da Argentina até os dias de hoje.

O Diário Olé tem uma página dedicada com todas as notícias sobre o técnico argentino.

A retomada

Depois da eliminação na Copa América de 2019, a Argentina soma 25 partidas, com 17 vitórias, 8 empates e nenhuma derrota, com o total de 48 gols marcados e apenas 15 sofridos. Um feito que veio alavancando o moral dos torcedores. Aqui um resumo dos resultados da “Era Scaloni”.

E no meio deste período a Copa América de 2021.

O técnico sabia que este seria um momento importante para todos provarem que a Argentina estava de volta. Durante a Pandemia, com diversos problemas decorrentes desta e a rejeição de Colômbia e da própria Argentina como sede da competição, coube ao Brasil novamente sediar a Copa.

Mas a mentalidade dos comandados de Scaloni era outra. Empataram com o Paraguai no jogo de estreia e venceriam todos os outros até a semifinal, quando passaram pela Colômbia nas grandes penalidades após empatarem em 1×1 no tempo normal. Por fim, o Brasil na decisão, seu último algoz.

E nos pés de Di Maria, ainda no primeiro tempo, Messi e seus companheiros viveriam o sonho da conquista do troféu.

https://www.youtube.com/watch?v=RtuZWpcso0g&ab_channel=RenanAlbuquerque

Não foi uma grande competição por toda a polêmica que envolveu a sua realização, como bem descreve o El País (e de fato não deveria ter acontecido pelo auge da Pandemia), mas para a argentina ela terá sempre um sabor especial.

Lionel Messi descreveu bem este sentimento de alívio pela Conquista da Copa América. Em entrevista ao site da Conmebol, o craque disse:

“Graças a Deus somos campeões. Precisava tirar das costas o peso de conquistar algo com a seleção, tinha estado muito perto por muitíssimo anos. Sabia que em algum momento ia acontecer e creio que não há melhor momento do que este”

A Seleção Argentina hoje

Invictos nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022, a Argentina está muito próxima de garantir a vaga matematicamente. Dentro de campo, Messi vive o melhor momento com a camisa albiceleste, não só tecnicamente, mas como líder. Não tendo mais a pressão de conquistar um titulo relevante, o jogador pode se concentrar em apenas jogar futebol.

Este ambiente, aliás, tem favorecido a consolidação de outros jogadores, que têm crescido dentro de seus clubes e transferido essa qualidade para o grupo nacional. Os principais casos são de Rodrigo de Paul e Lautaro Martínez. Outros atletas importantes tem somado ao elenco, como o goleiro Damián Martínez, o zagueiro Nicolas Otamendi e o meia Angel di Maria.

Aliás, o atacante da Inter de Milão, Lautaro, é o que vive melhor momento sob o comando de Scaloni. É o artilheiro desta “nova era” com 16 gols em 13 jogos.

Além disso, um bom entrosamento no meio-campo, com jogadores criativos que participam das criações de jogadas e também da marcação. O site The Coaches Voice descreve muito bem o estilo técnico e tático de Scaloni.

Em resumo, o técnico tem utilizado um esquema 4-4-2 variando para o 4-3-3, com o lateral direito mais preso na defesa enquanto o esquerdo procura posições mais avançadas. Quando tem a bola, a Argentina busca a iniciativa das jogadas, tentando impor seu jogo ao adversário. Muitas vezes o goleiro atua junto aos zagueiros, ampliando a área de saída de bola e aumentados as possibilidades de inicio de jogadas. No ataque, Lautaro se movimenta bastante, mas tende a se apresentar mais como finalizador, enquanto seu companheiro recua e participa da construção principalmente ao lado de Messi e Di Maria (ou um dos dois faz a função de segundo atacante).

A Argentina hoje é um time mais robusto e volta a aparecer entre as seleções mais fortes do planeta. Na Copa do Mundo de 2022 certamente entrará como favorita, como acontece em toda competição e pela história que sua camisa carrega. Pode até não sair vencedora, mais venderá muito cara a sua desclassificação.

A imagem de Capa foi retirada do site oficial da Conmebol. as outras fotos foram retiradas do perfil oficial da Seleção Argentina no Twitter.

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