Abel, Miguel e o futuro do Inter

Foto Ricardo Duarte/Internacional

Embora não esteja oficializado, tudo indica que o espanhol Miguel Ángel Ramírez será o próximo treinador do Internacional. Em entrevista ao jornal “El País”, ele chegou a falar em “borboletas no estômago” pelos desafios vindouros. Uma questão em aberto, ainda, é quando ele assumirá. Como sabemos, em virtude da paralisação do futebol neste ano, o Brasileirão 2020 só termina em fevereiro em 2021. O Inter tem contrato com Abel Braga até o final do campeonato. Porém, jornalistas gaúchos indicam que ele ficou sentido por ter sido preterido pelo espanhol, e que deixaria o comando do Inter após o jogo contra o Bahia, no dia 27 de dezembro.

O presidente eleito do Inter, Alessandro Barcellos viajou com a delegação para ter uma conversa com o Abel, para tentar convencê-lo a fazer uma transição em janeiro e fevereiro, juntamente com Miguel. Tudo indica, porém, que o treinador campeão do mundo em 2006 não aceitará, e entregará o cargo. O contrato do treinador não prevê multa em caso de rescisão antecipada. Quem conduziria esta transição, então, seria o Osmar Loss, que faz parte da comissão técnica permanente do clube.

Embora o Abel Braga seja um ídolo incontestável do clube, acredito que a oxigenação é necessária. Acredito que um dos motivos pelo qual o Alessandro optou pelo Miguel é o uso das categorias de base. Depois de alguns anos sem aproveitar tanto os guris do Celeiro de Ases, agora o uso da base não é opcional, é uma necessidade. Um dos motivos é a falta de dinheiro para contratações vultuosas: segundo reportagem do GE, o clube tem R$ 581 milhões em dívidas, sendo R$ 400 milhões de curto prazo. Ou seja, contratar jogadores caros é inviável. Outro motivo para usar a base é que há jogadores com bastante qualidade, que podem agregar no grupo principal, e possivelmente vendas futuras, para reduzir esse déficit.

Entre os jogadores que deverão ser aproveitados em 2021, estão o lateral-direito Heitor, o meia Praxedes, e os atacantes Peglow e Yuri Alberto, todos os quatro com total capacidade de serem titulares. Entre apostar em um jogador mais velho, mediano, por empréstimo e com salário alto, ou apostar na base, minha convicção é de apostar na base. Na pior das hipóteses, eles jogarão praticamente o mesmo, com a vantagem da prata da casa ter um salário menor. Na melhor das hipóteses, o jogador da base pode virar uma negociação futura.

É claro que nem todo jogador da base que suba ao time principal será um craque. Aliás, a probabilidade é de que não seja. Porém, tendo jogadores suficientemente bons para que alguns sejam titulares e outros sejam opções no banco, as categorias de base já terão cumprido seu papel. Assim, evita-se contratar jogadores que não serão aproveitados e logo emprestados para outros clubes, como é o caso do Dudu, Natanael, Rithely, Trellez, Parede e outros tantos. Para efeito de comparação, a gestão Marcelo Medeiros contratou mais de 40 reforços. Quantos desses poderiam ter sido evitadas, se tivéssemos apostado na base?

O ano de 2021 será um tremendo desafio para Alessandro Barcellos. Vai ser necessário dar conta, em paralelo, de enxugar a folha de pagamento do clube, montar um time competitivo mesclando a base e jogadores veteranos e ainda dar o apoio necessário ao novo treinador – isso porque a imprensa esportiva já “fritou” o Coudet (que tinha erros, é claro, mas de um modo geral fazia um trabalho muito acima da média), e está fazendo o mesmo com o Ramírez. Um cronista do RS escreveu que apostar em um treinador estrangeiro será o primeiro erro desta gestão.

É bem verdade que a contratação do Miguel Ángel Ramírez é uma aposta. Ele tem menos de 100 jogos como treinador da equipe principal, embora trabalhe com categorias de base há anos. Pode fracassar em um ambiente como o brasileiro, no qual a torcida não está acostumada há esperar meses para atingir um padrão de jogos, é verdade. Mas acredito que a aposta do Barcellos é integrar o futebol profissional do Inter com a categoria de base, coisa que se perdeu ultimamente no clube. Além disso, o novo presidente do Inter foi um dos poucos dirigentes a dar respaldo para o Coudet. Esperamos que ele mantenha essa convicção com o novo treinador.

Sobre o elenco do clube, não se tem falado muito de reforços (mesmo porque a temporada só termina dia 21). O que se sabe é que o Musto (um dos pivôs da demissão do Coudet) irá sair no final de dezembro, a renovação do empréstimo do Saravia está sendo encaminhado, e que há diversos clubes interessados no Patrick, que talvez deixe o clube. Embora seja um jogador importante, acredito que possa ser negociado, porque em sua posição temos algumas reposições – caso Ramírez opte por jogar em um 4-3-3, o meio de campo poderia ser formado por Dourado, Edenilson e Praxedes, e ainda temos a volta do Boschillia, que deve voltar em abril. Outro ponto que poderia ser reformatado são os goleiros. Sei que a vida não é como no Football Manager, em que vender um jogador é fácil e simples, mas poderia ser interessante negociar um dos goleiros, Danilo Fernandes ou Marcelo Lomba. São dois goleiros experientes, com altos salários, e que barram a ascensão de goleiros da base, como o Daniel – que dizem ser um dos melhores goleiros formados na base dos últimos anos. Se possível, eu veria com bons olhos a negociação de um dos dois (quiçá dos dois).

2021 será um ano difícil para o Inter. Sem dinheiro, com cobranças (boletos e da torcida) chegando. Boa sorte ao Miguel e ao Alessandro, e obrigado por tudo, Abel.

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