O clube carioca tem caído cada vez mais de rendimento e com técnico perdendo ainda mais prestígio
Por algum tempo, o Flamengo foi considerado o melhor time do Brasil. A forma como a equipe atuava enchia os olhos dos brasileiros. Até mesmo os rivais admitiam, mesmo à contragosto, que não havia quem pudesse bater o time Rubro-Negro. O reflexo disso foram as conquistas nos últimos anos, como o bicampeonato Brasileiro e a Libertadores.
Neste ano, o Flamengo ainda é um dos mais fortes times do Brasil. Apesar da distância para o líder Atlético Mineiro, especialistas consideram o clube como um dos favoritos ao troféu nacional. O time foi semifinalista da Copa do Brasil e, quanto ao estadual, não é necessário comentar (apesar de ser atualmente tricampeão). Ainda há a final da Libertadores de 2021 a ser disputada contra o Palmeiras no próximo dia 27/11.
Então qual o motivo de tantas queixas em relação ao Flamengo? A queda abrupta na qualidade do futebol.
A ERA JORGE JESUS
Sob o comando do português Jorge Jesus, o torcedor flamenguista viveu um sonho. O time conquistou praticamente tudo que disputou. Em 2019, levou a Copa Libertadores e o Campeonato Brasileiro (o título Carioca veio com o técnico anterior Abel Braga). Já em 2020, levou o Campeonato Carioca, a Recopa Sul-Americana e a Supercopa do Brasil. Um currículo absurdo e invejável. Foi uma das épocas mais marcantes de um clube no futebol brasileiro.
O time titular contava com Diego Alves; Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí, Filipe Luís; Willian Arão, Gerson: Everton Ribeiro, De Arrascaeta, Bruno Henrique; Gabriel Barbosa. Na reserva, ainda contava com a liderança de Diego, que funcionava como um 12º titular.
A fase do Flamengo de Jorge Jesus foi tamanha, que o time foi considerado um dos melhores de todos os tempos no futebol brasileiro. Apesar do time possuir certa limitação defensiva, mas que era compensada pelo forte ataque. O time buscava pressionar o adversário, com toque de bola rápido e movimentação. A saída de bola da defesa era bastante qualificada, tanto ao passar pelo meio de campo quanto pelas laterais. Era realmente um time muito agradável de se ver jogar.
O site Goal fez um levantamento dos números da passagem de Jorge Jesus pelo Flamengo.
Depois do sucesso no Rio de Janeiro, Jorge Jesus resolveu voltar para Portugal com uma proposta milionária do Benfica. Restava ao Flamengo procurar um novo treinador. E mais, com o histórico excepcional de Jesus, abriu-se um precedente, agora o Flamengo não poderia ter qualquer treinador, deveria buscar alguém que mantivesse o ritmo elevado.
O PERÍODO DE TRANSIÇÃO
Já que o sucesso viera com um treinador estrangeiro, nada mais que buscar outro nome na Europa. A escolha foi por Domènec Torrent, espanhol que tinha como principal destaque em seu currículo ter sido auxiliar técnico do Guardiola na época em que este treinou o Barcelona. Não é preciso dizer muito que o time começou a desejar com o novo técnico, que, portanto, ficou pouco mais de três meses no cargo, sendo demitido após uma derrota por 4×0 para o Atlético Mineiro.
Foi a vez de Rogério Ceni, promissor treinador, ex-goleiro e ídolo do São Paulo assumir o comando. Ceni era nome forte, graças ao seu excelente trabalho diante do Fortaleza. O treinador era conhecido por mudanças alternativas no time, e uma delas foi a de recuar Arão para a zaga e colocar Diego como volante.
Em resumo, Ceni, mesmo com a torcida não morrendo de amores por ele (e até o chamando de “Professor Pardal” em certo momento, em alusão ao personagem da Disney que era um inventor que falhava), o Flamengo manteve o seu favoritismo no Brasileirão e conquistou o bicampeonato.
Com o título nacional, Ceni sentiu-se mais confiante no cargo, tendo agora mais apoio da torcida e diretoria. Por fim, ainda conquistou o Campeonato Carioca de 2021 e a Supercopa do Brasil. Apesar disso, o desempenho em campo não era muito bom, sendo bastante criticado pela torcida. Foi então demitido após 45 jogos no comando do Flamengo, após outra derrota para o Atlético Mineiro, agora por 2×1.
A ESPERADA CHEGADA DE RENATO PORTALUPPI
Um namoro que durou anos. Flamengo e Renato Portaluppi, ou Renato Gaúcho, como é mais conhecido pelo torcedor carioca. Renato foi ídolo no Flamengo enquanto jogador. Conquistou a Copa União/Brasileirão de 1987 e a Copa do brasil de 1990.
Renato sempre foi conhecido como o “mais carioca dos gaúchos” por conta da sua personalidade. Sempre gostou de se divertir, nunca deixou de falar o que pensa ou impor seu jeito de ser. E, mesmo assim, foi um grande jogador. Atuava como ponta, sendo considerado um dos melhores de sua geração.
O site Medium elaborou o perfil do jogador Renato.
Por mais que alguns tivessem o pé atrás com a contratação de Portaluppi como técnico, era inegável eu ele fazia parte dos melhores do país. Em seus bons anos no Grêmio, conquistou Copa do Brasil e Libertadores, sem falar nos estaduais e Supercopa. Sua fase, depois de longos quase cinco anos em sua terceira passagem (somando um total de 411 jogos), estava desgastada no Tricolor Gaúcho. Portanto, após um período fora do futebol, assumiu o Flamengo em julho.
Toda esta divagação sobre a fase de Jorge Jesus até chegar ao Renato é importante para ilustrar o que se passava com o Flamengo dentro de campo. É importante destacar que, neste tempo, o Brasil passou pela pior fase da pandemia, o que também influenciou o esporte.
O início pelo Flamengo foi arrasador, conseguindo a impressionante marca de 89% de aproveitamento, com 14 vitórias em 16 jogos. Um recorde que deixou os torcedores ainda mais empolgados e a mídia impressionada.
Só que, de lá para cá, o time tem se apresentado muito abaixo do esperado e críticas começaram a surgir, tanto entre os meios de comunicação quanto a grande massa flamenguista. Renato, desde a época de Grêmio, priorizava as Copas (do Brasil e Libertadores) em detrimento do Brasileirão. Com a boa campanha do Atlético Mineiro, que se isolava cada vez mais na ponta da competição nacional, a distância aumentava rodada a rodada. O Flamengo foi avançando nas taças, mas ficava abaixo no Brasileiro, com atuações preocupantes.
A situação ficou mais complicada quando o time foi eliminado pelo Athletico Paranaense nas semifinais da Copa do Brasil. Juntando-se a isto as exibições ruins pelo Campeonato Brasileiro, com um time limitado, apesar dos talentos no elenco, sem muito repertório de jogadas, precisando das individualidades de estrelas do time para progredir.
OS PROBLEMAS DO TÉCICO RENATO
No entanto, é preciso analisar um pouco mais a situação do Flamengo e os fatores que levam o time a ter esta desconfiança com o atual treinador.
Apesar do elenco caro e recheado de bons jogadores, as convocações para as seleções em datas FIFA e excesso de lesões, bem como o calendário robusto, tem dificultado o trabalho de Portaluppi. De Arrascaeta, um dos principais jogadores, há tempos não atua por estar no departamento médico. Jogadores como Diego, Felipe Luis e Everton Ribeiro não tem rendido o que se espera deles. Gabriel Barbosa tem sido chamado constantemente para a Seleção (assim como Everton) e apresentando certo desgaste (tanto que o atacante ficou um bom tempo sem marcar gols).
Só que o calendário foi aceito pelo clube e o elenco foi montado pensando-se no excesso de jogos que um time como o Flamengo, que disputou e ainda busca disputar, as finais de todos os campeonatos possíveis (e brigar pela ponta do brasileirão até o fim). Não faltaram reforços durante o ano, como as chegadas de David Luiz, Andreas Pereira e Kennedy. Ou seja, os fatores que contribuem para o mal desempenho do Flamengo de Renato não podem servir de desculpas pelo fracasso.
Este momento, pelo menos, promoveu a evolução de Michael, que tem sido o principal jogador ofensivo do Rubro-Negro. Muito criticado quando chegou, por não conseguir apresentar o mesmo futebol da época do Goiás, Michael encontrou em Renato a oportunidade de brilhar, tendo muitas oportunidades e correspondendo à altura.
É pouco para o elenco que o Flamengo construiu. Se compararmos o considerado time titular atual com aquele que brilhou com Jorge Jesus, veremos pouca diferença, pelo menos individualmente.
Diego Alves; Isla, Rodrigo Caio, David Luiz, Filipe Luís; Willian Arão, Andreas Pereira, Everton Ribeiro; De Arrascaeta, Bruno Henrique e Garbiel Barbosa. Michael assumiu a posição de Diego como 12º titular, apesar do meia ainda ser relevante no elenco. Em suma, o time sofreu apenas mudanças, sendo que, na defesa, tecnicamente, melhorou com a entrada de David Luiz.
Como um time que brilhava e possuía diversas formas de vencer seus adversários, apostando em velocidade, técnica e explosão perde estas características tão rapidamente? A resposta recai, portanto, da mudança técnica.
Em jogos recentes era possível ver um Flamengo sem objetivo, buscando passes longos procurando a velocidade de Michael. Não se vê mais a bola sendo trabalhada. Os laterais caíram muito de qualidade (e o fator idade pode ser relevante).
OS PROBLEMAS FÍSICOS DO ELENCO
A situação de Renato se agrava com os frequentes problemas físicos do elenco. Como já dito antes, De Arrascaeta está há um tempo de atuar por conta de lesões. Há tempos o Flamengo não consegue jogar com seu time ideal. O excesso de jogos tem contribuído para isso. Alguns jogadores, muitas vezes, mal se recuperam e sentem a mesma lesão novamente.
Quando perguntado sobre isso no twitter, Marco Braz, vice-presidente de futebol do Flamengo, respondeu de forma irônica:
E AGORA?
É inegável o desgaste de Renato Gaúcho no comando do Flamengo. Outrora considerado a melhor opção par ao clube, com seu nome elevado entre os melhores técnicos do país, inclusive com parte da imprensa pedindo-o na seleção brasileira no lugar de Tite, é improvável que o Portaluppi fique no comando do time em 2022. Em questões de disputa, o Flamengo é o atual campeão Carioca, foi semifinalista da Copa do Brasil, está no G4 do Brasileirão e na final da Copa Libertadores. Não é um quadro ruim, mas, para o Flamengo, aliando ao mal futebol, caso perca a final continental no dia 27, passar o ano só com o estadual seria um fracasso enorme.
Aliás, antes franco-favorito à conquista da Libertadores, o Flamengo viu este status mudar. O Palmeiras não tem um jogo bonito, o técnico Abel Ferreira aposta na contenção e no jogo de controle. Apesar disso tem sido bastante eficiente. Não à toa, o time paulista, sob o comando dele, está em sua segunda final seguida da competição. Flamenguistas, antes confiantes na conquista continental, hoje sentem ela cada vez mais distante.
Bem, torcedores já olham esperançosos para terras portugueses, na expectativa de que Jesus, e desculpe o trocadilho, venha salvar o Rubro-Negro de outros fracassos no próximo ano.
TODAS AS IMAGENS FORAM RETIRADAS DO PERFIL OFICIAL DO CLUBE DE REGATAS DO FLAMENGO NO FLICKR, DE AUTORIA DO FOTÓGRAFO ALEXANDRE VIDAL.
