
Mais atenta às questões ligadas ao futebol feminino, que tem experimentado um crescimento expressivo nos últimos anos, a FIFA está financiando um estudo, em parceria com a Universidade de Kingston, da Inglaterra, que visa investigar a possível ligação entre o ciclo menstrual e as lesões no joelho de atletas mulheres, mais especificamente as lesões do Ligamento Cruzado Anterior (LCA).
Um caso recente é o da atacante Dudinha, do Palmeiras, que deve perder a temporada de 2025. Em junho, ela foi submetida à cirurgia, após o rompimento do LCA, além de uma lesão no menisco. “Quero aproveitar este momento para reconhecer minha bravura e determinação ao enfrentar a cirurgia de LCA. Esse é um passo fundamental na minha recuperação e, embora a jornada à frente possa parecer desafiadora, cada dia é uma oportunidade de cura”, disse ela, em suas redes sociais.
O estudo terá duração de um ano, com a participação de jogadoras da elite do futebol feminino. Elas terão o sangue coletado para análise de concentrações hormonais e serão submetidas regularmente a exames de desempenho físico.
O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE), Dr. Adriano Marques de Almeida, fala que o risco relativo de lesão do ligamento cruzado anterior em mulheres, em comparação com homens, é significativamente maior. “Vários estudos indicam um risco de 1,5 a 8 vezes maior para mulheres. Essa disparidade é influenciada por vários fatores, incluindo diferenças anatômicas, hormonais e biomecânicas”, explica.
O médico comenta que a relação entre lesões do LCA e o ciclo menstrual já foi explorada em alguns estudos, que buscam compreender a questão. Um deles, intitulado “The Influence of the Menstrual Cycle and Oral Contraceptives on Knee Laxity or Anterior Cruciate Ligament Injury Risk: A Systematic Review” (A Influência do Ciclo Menstrual e dos Anticoncepcionais Orais na Frouxidão do Joelho ou no Risco de Lesão do Ligamento Cruzado Anterior: Uma Revisão Sistemática), indica que “o ciclo menstrual, devido à flutuação hormonal, parece influenciar a frouxidão do joelho em mulheres. A conclusão pontua, que, “no entanto, com base na literatura, não podemos concluir que haja correlação entre o ciclo menstrual e o risco de lesão do LCA”.
Segundo o vice-presidente da SBRATE, vários estudos demonstraram que alterações hormonais durante o ciclo menstrual, particularmente aumentos no estradiol (um dos principais hormônios femininos, vital para o funcionamento do corpo das mulheres), podem levar ao aumento da flacidez do joelho. Essas pesquisas apontam que esse risco tende a ser maior durante a ovulação e na fase que a sucede, conhecida como fase lútea, período em que os hormônios do ciclo menstrual deixam o joelho mais instável.
“Embora a influência do ciclo menstrual no risco de lesão do LCA em mulheres seja apoiada por algumas evidências, a relação não é simples e mais pesquisas são necessárias para esclarecer essas associações”, diz Almeida.
Após a conclusão do estudo da FIFA, as informações poderão auxiliar os clubes na criação de medidas para reduzir o risco de lesões. O vice-presidente da SBRATE lembra que, apesar do maior risco relativo para mulheres, “é essencial considerar que a incidência geral de lesões do LCA permanece maior em homens devido à maior participação em esportes de contato, o que destaca a necessidade de estratégias de prevenção personalizadas para ambos os sexos”.
Sobre a Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE)
A Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE) é uma entidade sem fins lucrativos que reúne médicos ortopedistas e promove o avanço da artroscopia e traumatologia esportiva no Brasil por meio de educação, pesquisa e boas práticas.
Via assessoria de imprensa.