Favoritismo ganha jogo?

Uma das características mais apaixonantes do futebol é a imprevisibilidade. Por mais que exista esse fator “aleatório”, outro ponto forte na modalidade é o favoritismo, que alça uma equipe ao topo, antes mesmo da bola rolar e, nem sempre, se concretiza.

O efeito “favorito” pode ser benéfico para uns e maléfico para outros. Existem jogadores que ganham confiança ao estar do lado mais forte, enquanto outros podem relaxar e acreditar que o jogo já está ganho. O favoritismo tem um peso real que pode ajudar ou atrapalhar um time todo. Mas quem decide quem fica com esse “título”?

Na hora de medir esse status, dois grupos de profissionais são chamados para a missão. Os primeiros são os jornalistas especializados, que vivem o dia a dia do futebol, conhecem o elenco, o treinador, qual o estado físico e psicológico dos jogadores e como a equipe está enfrentando a temporada.

Por outro lado, estão as casas de apostas, que se dedicam a elaborar odds, ou possibilidades, certeiras sobre o possível vencedor de um jogo ou, até mesmo, do campeonato. Essas empresas contam com um time de especialistas que lançam mão de ferramentas tecnológicas, uma delas o Big Data, para conseguir equilibrar o lado subjetivo do esporte com os números, algo bastante frequente nas modalidades norte-americanas, como basquete ou futebol americano.

No Brasil, o mercado de apostas tem crescido exponencialmente, ao contar com os principais campeonatos do país, além das competições internacionais, de clubes e seleções. E como não poderia ser diferente, a aposta esportiva é a mais procurada pelos usuários, que confiam que, além de saber mais do que o técnico do seu time de coração — um mal de todo torcedor —, também dominam o campo das previsões e palpites certeiros.

Quando o favoritismo joga a favor

Uma das equipes que melhor sabe lidar com o peso do favoritismo é o Real Madrid. Os merengues são os maiores campeões da Champions League, são 14 taças continentais na conta, o dobro do Milan, segundo colocado na lista de times com mais troféus da competição mais cobiçada do mundo.

O título conquistado na temporada 2021-2022 mostrou que os espanhóis sabem lidar com a pressão de serem favoritos e também com o peso da camisa branca.

Nas semifinais, o desafio era vencer o Manchester City comandada por Pep Guardiola, um antigo rival. O primeiro jogo entrou para a história, foram 7 gols; 4 para os azuis e 3 para os brancos. No entanto, o melhor estava por vir.

No jogo da volta, Mahrez marcou pelo City, que abriu uma vantagem quase irreversível. Isso mesmo, quase…

Na frente no placar, o City cansou de perder gols e, no futebol, quem não faz, toma. Aos 45 do segundo tempo, Rodrygo marcou o primeiro. Um minuto depois, o atacante brasileiro voltou a balançar a rede e forçou a prorrogação. No tempo extra, novamente o brasileiro, dessa vez, arrancou pela esquerda, cruzou para Benzema, que sofreu e converteu o pênalti que levou o Real para à final.

Na finalíssima, o Liverpool seria o rival. As duas equipes já tinham se enfrentado numa final recente e o Real Madrid havia levado a melhor. Era a chance para os Reds descontarem, mas não foi assim. Os merengues marcaram com Vini Júnior, num contra-ataque veloz e mortal, e ficaram com a taça.

Quando o favoritismo joga contra

Não existe nada maior do que a Copa do Mundo. Conquistar esse título, colocar o seu país no topo do futebol, entrar para a história. A cada quatro anos, o planeta bola para e todas as atenções estão nos jogos do mundial.

É justamente nesse momento que diversas equipes cedem a pressão de serem as favoritas e perdem a chance de vencer o maior torneio da modalidade. Os exemplos são muitos, e alguns podem fazer o torcedor brasileiro sorrir, como a seleção argentina de 2002, que contava com Verón, Simeone, Crespo e Batistuta, mas não passou da fase de grupos, ficando atrás de Suécia e Inglaterra. Sim, nessa ordem.

Já outros exemplos podem fazer as lágrimas rolarem nos rostos brasileiros. Começando pelo mais doído: a seleção de 1982. Considerado o melhor selecionado nacional da história, o time de Sócrates, Zico, Falcão, Júnior, Chulapa e Cerezo foi superado pela Itália e ficou fora da disputa pelo título.


 Em 2006, a história se repetiu. A seleção contava com nomes de peso em todas as posições, porém, nada era mais atraente que o famigerado “quadrado mágico” formado por Ronaldo, Ronaldinho, Adriano Imperador e Kaká. O primeiro jogo contra a Croácia foi duro, vitória por 1 a 0. Na seguinte partida, outra vitória, 2 a 0 na Austrália, e para fechar a fase de grupos, um passeio, 4 a 1 no Japão. Nas oitavas, o Brasil não tomou conhecimento e passou fácil por Gana. Porém, o dia do caçador virar caça chegou. A França comandada por Zidane deu um baile e venceu o canarinho por 1 a 0, acabando com o sonho do quadrado mágico.

O favoritismo é um tema complexo e cada equipe e jogador são afetados de formas diferentes. Existem clubes que crescem com a responsabilidade de vencer, como o caso do Real Madrid, e tiram forças para confirmar a aposta e conquistar títulos. Já outros grupos vão entender esse status como uma vantagem e relaxar, como a seleção brasileira de 2006, que abusou da badalação e viu o sonho ruir.

Dito isso, é fundamental que jogadores e torcedores entendam que ser apontado como favorito não é garantia de vitória, nem tão pouco desrespeito com os rivais. É apenas uma parte do apaixonante mundo do futebol, que com suas reviravoltas sempre guarda uma surpresa para os seus amantes.

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