A recente aprovação do modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF) pela Juventus da Mooca, tradicional clube paulistano fundado por imigrantes italianos, representa mais do que uma reestruturação financeira: é um passo simbólico e prático rumo à modernização do futebol raiz no Brasil. A mudança, que prevê investimentos de até R$ 500 milhões e a ampliação do estádio para 15 mil lugares, busca devolver protagonismo ao clube e reacender o vínculo emocional com a torcida local e a comunidade ítalo-brasileira da capital paulista.
Para Marcelo Godke, sócio do Godke Advogados e especialista em Direito Empresarial e Direito Societário, a iniciativa reforça o caráter cultural do futebol brasileiro. “Sabemos que o futebol é uma questão de paixão e gosto pessoal, e torcer para um time como Santos, São Paulo, Corinthians ou Juventus muitas vezes transcende a lógica, sendo uma questão de amor. Isso pode ter um forte vínculo cultural. No caso do Juventus, por ser um time com origens na comunidade italiana de São Paulo, a impressão é que, se for reestruturado financeiramente e tiver um time forte, as pessoas voltarão ao estádio”, afirma. Segundo ele, esse resgate é um caminho para fortalecer laços entre gerações e manter viva a identidade ítalo-brasileira no cenário esportivo.
Além da dimensão afetiva, a aprovação da SAF atende a uma necessidade premente do futebol brasileiro: a profissionalização da gestão. “A SAF, com sua estrutura de sociedade anônima especial, foi criada para promover a organização profissional. O futebol, além de esporte, é também entretenimento, mas é fundamentalmente um esporte. A SAF é, portanto, um mecanismo jurídico inteligente e interessante, criado no Brasil para unir esses dois aspectos, permitindo que o esporte se organize de maneira profissional, sem perder sua essência”, destaca Godke.
A expectativa é que, com o novo modelo, o Juventus consiga retornar à elite do futebol paulista nos próximos 10 anos, resgatando seu prestígio histórico. A profissionalização traz também maior transparência na gestão, atratividade para investidores e novas possibilidades de receita — como naming rights, parcerias comerciais e um maior aproveitamento da marca Juventus no mercado esportivo.
Neste contexto, a SAF da Juventus da Mooca não representa apenas uma solução financeira, mas também um movimento simbólico: a união do passado e do futuro do futebol brasileiro. Ao preservar sua identidade comunitária enquanto adota ferramentas jurídicas modernas, o clube se posiciona como exemplo de como o futebol tradicional pode se reinventar sem perder sua alma.
Sobre Marcelo Godke: Sócio do Godke Advogados. Especialista em Direito Empresarial e Direito Societário. Professor da Faculdade Bela Vista. Mestre em Direito pela Columbia University e Doutor em Direito pela USP.