O clube do Paraná tem a fama de inacessível, mas é o time que mais evolui no Brasil
De alguns anos para cá, fora do superestimado grupo chamado “doze grandes do Brasil”, o Athletico Paranaense tem sido o time que mais tem evoluído dentro e fora dos gramados. Tanto que está na sua segunda final de Copa Sul-Americana em quatro anos.
Enquanto alguns destes “doze grandes” amargam tempo na segunda divisão, ou estão com dívidas astronômicas, o Athletico vai demonstrando equilibro financeiro e efetividade nos gramados, fazendo o que pode com orçamentos mais restritos, sem deixar a qualidade cair.
Entre aqueles que vivem o clube diariamente, um nome se destaca: Mario Celso Petraglia, atual presidente do clube.
Mario Celso Petraglia
Mario Celso Petraglia é empresário e nasceu em 1944, no Rio Grande do Sul. Presidente do Athletico desde 2011, começou a fazer parte da diretoria do clube em 1984, quando assumiu como diretor.
Passou a gerir o Furacão de forma mais efetiva em 1995. Foi sob a administração dele que a Arena da Baixada e o CT do Caju foram construídos. Petraglia é o marco no divisor de águas do clube, adotando uma filosofia mais empresarial.
Em 1995 a dupla estava na Série B, mas o Coritiba vivia melhor fase no estadual. Na época, a Arena da Baixada ainda não existia e todos os jogos grandes do estado eram no Alto da Glória, estádio do rival.
O Furacão foi completamente dominado pelo rival, que venceu por 5x1: o placar mais elástico desde 1958, quando foi a favor do rubro negro. O clima ficou insustentável para o presidente Hussein Zraik e a diretoria pediu a renúncia para a entrada de Mario Celso Petraglia, que já estava envolvido com o Athletico desde 1985, pelo menos.
A partir dali, as coisas começaram a mudar. A injeção de ânimos resultou, à curto prazo, no título da série B em 1995 e na grande campanha do time em 96.
Mas além disso, Petraglia soube investir para crescer. Aumentou o patrimônio do clube, investiu nas categorias de base. A Arena da Baixada foi inaugurada em 20 de junho de 1999 como um estádio modelo e poucos anos depois foi reformada para receber a Copa do Mundo em 2014, com o teto retrátil e a grama sintética.
Nesses 26 anos, o Athletico foi lançado, de fato, ao cenário nacional e internacional. Além da Série B em 95, vencemos a Seletiva da Libertadores em 99 (disputando a primeira Libertadores da história do clube em 2000), o Brasileirão em 2001, a Sul-Americana em 2018, a Copa do Brasil e a Levain Cup em 2019. Além de disputar a Libertadores 7 vezes (chegando em uma final).
Nem tudo, porém, são glórias. O mandatário é controverso e vive sempre em pé de guerra com a torcida, numa verdadeira relação de amor e ódio. “Eu não entendo de futebol”, declarou Petraglia em 2011, enquanto a Baixada estava em obras para a Copa do Mundo e o clube brigava contra o rebaixamento.
Ele também já brigou com a torcida diversas vezes, proibindo os Fanáticos (torcida organizada do clube) de frequentar o estádio e levar os instrumentos. Ou com, fato mais recente, impedindo que a torcida acompanhasse a semifinal da Sul-Americana contra o Penarol dentro do estádio, apesar da liberação da prefeitura. Isso sem contar as inúmeras vezes que ele vem ao Twitter esbravejar. Não são poucos os memes da torcida em relação aos seus jargões. Chamar opositores de “pulhas” é um clássico que a torcida absorveu em tom de comédia.
Entre as maiores polêmicas, acredito que a inclusão do “h” e a mudança da identidade visual do clube foi uma das mais fortes. Mas se ele não entende de futebol, entende muito de negócios: a alteração aconteceu logo antes da final da Sul-Americana em 2018, com recorde de público na Arena da Baixada, onde ele pôde divulgar a marca nova e criar um laço grande com a torcida, conquistando um título inédito.
Alguns torcedores o odeiam. Outros o amam. Os sensatos sabem pesar as coisas e tirar a história à limpo. O fato é que a revolução do Atletiba da Páscoa mudou a história do Athletico e do futebol do estado do Paraná. Mas uma coisa é certa: ninguém é maior que o clube.
Desde a estrutura, até no time mesmo, que cada vez mais se firma como uma equipe competitiva. Mesmo sendo um clube com torcida e apelo comercial menor, comparados com outros do Brasil, o Furacão tem suas contas em dia e tem feito mais dinheiro vendendo bem seus jogadores que destacaram. Exemplos mais recentes: Bruno Guimarães e Renan Lodi.
O Athletico, há muitos anos, investiu nessa ideia de formar atletas, de ser um clube que não faz contratações astronômicas. Apesar de algumas divergências e de ser uma pessoa, digamos, “difícil”, acredito que muito de tudo que aconteceu no clube se deve ao presidente Mário Celso Petraglia. Que para mim é um visionário do futebol.
Mesmo muitas vezes se colocando em guerra com a torcida e em algumas poucas tendo atitudes que não concordo, ele transformou o clube.
E acredito que continuaremos em ascensão. Figurando bem em competições nacionais e internacionais. Porque ele pensou em fazer o caminho de crescer aos poucos, mas com consciência financeira. O que muitos clubes do Brasil esqueceram de fazer e por isso estão afundados em dívidas.
Não estou aqui para fazer qualquer juízo de valor, tem muita gente que não gosta ou não tolera, mas todos precisam respeitar. Porque falar de Athetico-PR hoje, é falar de uma ideia que foi colocada desde a década de 90 justamente pelo Petraglia. E agora está surtindo efeito. Futebol não se faz sem planejamento, não se faz da noite para o dia, é uma ideia que foi introduzida no futuro do Athletico e que, por sinal, trouxe o único título internacional recente da história do futebol do estado, a Sul-Americana, que pode se repetir nesta temporada.
Então, eu enxergo essa posição, de caminho positivo, que parte única e exclusivamente de um pensamento, que vem da década de 90, especificamente de 97, quando o Petraglia assume e traz essa ideia que foi ao longo de todos os anos desenvolvida pelos dirigentes, e vem na contramão do que impõe a CBF, que tem um sistema que, infelizmente, é antiquado e tóxico e que os clubes são coniventes.
O Athletico-PR veio com a ideia de ser um cube autossustentável. Claro que diversas fontes de receita são fundamentais para qualquer clube, ainda mais as instituições sem fins lucrativos, como os clubes de futebol aqui do Brasil. Bilheteria, venda de jogadores, patrocinadores, cotas de TV. Como qualquer clube, o Athletico-PR precisa disso. Porém, o clube é autossustentável, graças a ideia que trouxe, implementada na década de 90. Assim, o futebol paranaense está começando a ganhar mais relevância no cenário nacional e internacional. Portanto, se não fosse o Petraglia, o Furacão não estaria aonde está hoje.
É claro que é um exercício de futurologia falar que “se não fosse o Petraglia, o clube não seria o que é hoje. É claro que poderíamos ter tido, nos últimos anos, bons presidentes que teriam evoluído a marca do clube. Mas temos que destacar o planejamento, a ideia colocada há pelo menos três décadas, um clube autossustentável. E esta é uma ideia que acho que outros clubes deveriam seguir, para não ficar na mão de federações e TVs”.
Eu não entendo como se o Athletico-PR seja um modelo a ser seguido, pois cada clube tem sua ideologia, sua maneira de agir, de enxergar o futebol, potencializar sua marca, mas o Athletico-PR vai exatamente na “contramão de forma positiva”, não de forma pejorativa, pois é um clube que tenta não ficar na mão das federações, da CBF, das cotas de TV de quem tem os direitos de transmissão. É um clube que cada vez consegue se consolidar na parte estrutural. Hoje eu entendo o Athletico-PR como um clube grande, um clube gigante, mas com um time emergente.
Quando a gente fala em clube, a gente fala em estrutura, desenvolvimento da base, venda de jogadores. Isso o Athletico-PR é referência nos últimos anos. Agora não confundam o clube com o time, pois o time ainda é emergente. O time precisa, por exemplo, de mais um título de expressão, mais um Brasileiro, ou uma Libertadores. Chamar atenção para a marca internacional. Uma coisa é ganhar a Sul-Americana, que vale muito, mas outra coisa é conquistar uma Libertadores, jogar um Mundial e aparecer, literalmente, para o mundo inteiro, a sua marca, a sua torcida, que por mais que seja grande no Paraná, é pequena no Brasil. É uma torcida que precisa se impor mais, aparecer mais, incomodar mais. Incomodar no bom sentido da palavra, no estádio, comprando da marca do clube, seja camisa, shorts, meia, seja o que for e poder auxiliar o clube. O Athletico-PR também precisa melhor o seu sócio-torcedor, pois nisso está muito atrás dos grandes clubes do futebol brasileiro.
Então, acredito que, na parte estrutura, o Athletico-Pr está muito bem desenvolvido e pode sim ser tratado como referência, como modelo, mas, dentro de campo, ainda precisa provar que é gigante, e brigar com o tal “eixo Rio-SP”. Que também tem Belo Horizonte, Porto Alegre... e o Athletico precisa fazer frente a este grupo dos principais clubes do futebol nacional.
A mudança da marca
A maior polêmica que envolveu esta mudança de patamar do Athletico foram as alterações drásticas feitas pelo clube, a começar pelo próprio nome, acrescentando a letra “H”. Segundo o presidente Petragia:
– Dentro da nossa nova identidade, a nossa proposta também é resgatar o passado. Começamos com Club Athletico. Temos também que assumir que o Atlético é o Atlético Mineiro. Queremos resgatar o nosso nome de registro. Na nossa caminhada mudamos, mas não há nenhum registro dessa mudança – disse, na apresentação do evento, como podemos ver na publicação do GloboEsporte.
Outra mudança relevante aconteceu com o escudo do time. Passou de algo mais elaborado para um efeito mais minimalista, fazendo referencia a um furacão, apelido do clube.
A seguir um breve vídeo do evento de divulgação:
Títulos recentes
Em 2018, o Athletico foi campeão da Copa Sul-Americana, o primeiro título internacional de sua história. Na final enfrentou o Atlético Júnior de Barranquilla, da Colômbia e, após dois empates em 1×1, venceu nos pênaltis por 4×3. Comandado por Tiago Nunes, esta foi a escalação do time na decisão:
No ano seguinte, em 2019, o clube conquistaria a Copa do Brasil pela primeira vez, ainda sob o comando técnico de Tiago Nunes. A decisão foi contra o Internacional. A escalação:
Finanças
O Athletico foi dos poucos clubes a conseguir enfrentar a pandemia sem muitos problemas financeiros, graças ao controle da diretoria.
Em julho, o GloboEsporte, com o sempre competente Rodrigo Capelo, apresentou uma matéria em que o clube teve saldo positivo de mais de 130 milhões de reais.
Graças às conquistas de 2018 e 2019, associado à boas vendas de jogadores, o clube consegue se manter saldável financeiramente. As saídas de Bruno Guimarães para o Lyon (R$ 93 milhões) e de Robson Bambu para o Nice ($ 47 milhões) contribuíram bastante para este patamar.
A matéria de Capelo é muito elucidativa quanto a situação financeira do Athletico. Existem sim dívidas, e também queda de arrecadação, sobretudo nos direitos de transmissão ne venda de ingressos.
O Athletico é o único clube que não vendeu seus direitos de transmissão no futebol brasileiro e seus jogos em casa são de direito da Furacão Live sua plataforma própria.
Capelo concluiu:
“A permanência na primeira divisão, o título recente da Copa do Brasil, a poupança farta: todas essas qualificações rubro-negras estão ligadas aos investimentos feitos há muito tempo em categorias de base e infraestrutura. A venda dos atletas por fortunas é resultado disso.”
O futuro
Se tem uma torcida que pode ficar tranquila com o futuro de seu time é a do Athletico. Como vimos, estruturalmente o clube é um dos maiores do Brasil, e futebolisticamente vem crescendo e despontando cada vez mais. Como disse Cappellanes, o time precisa ficar ainda mais conhecido e ganhar títulos de mais expressão. E neste ano tem a possiblidade de conquistar a Copa -Sul-Americana (finalista) e a Copa do brasil (semifinalista).
Bons ventos aguardam o Furação!