Como a maioria dos doentes por futebol sabe, o calendário do futebol europeu é diferente em relação ao nosso. Por isso, enquanto aqui estamos nas primeiras rodadas dos campeonatos nacionais, o velho continente já vai conhecendo seus campeões da temporada 2021-2022. Alguns levantaram a taça sem maiores dificuldades, como Real Madrid e Bayern de Munique (10º título consecutivo!). Outros tiveram que esperar até a última rodada para confirmar o título, como o City de Guardiola, que, ao vencer o Aston Villa de virada, superou o Liverpool de Klopp com direito a uma grande festa em Manchester. Porém, dos campeões europeus até agora, um deles merece maior destaque. A exemplo do que ocorreu na Inglaterra, o Campeonato Italiano foi decidido no último jogo, e após uma espera de 11 anos, o Milan volta a ser o dono da Itália.
Antes de comentar sobre o retorno deste gigante do futebol mundial à prateleira onde merece, vale contextualizar o que realmente aconteceu com o Milan na última década. Desde que havia sido campeão da Série A pela última vez, na temporada 2010-2011, o Milan atravessou um dos momentos mais conturbados em seus 122 anos de história. Uma crise institucional e financeira, agravadas com polêmicas em volta do político Silvio Berlusconi, primeiro-ministro italiano e dono do clube na época, acabaram com a competitividade do time, que teve de ser vendido a um grupo chinês, em 2017. Com a venda, o Milan foi excluído das competições europeias durante 2 anos, por violar as regras do Fair Play financeiro da Uefa e, posteriormente, comprado por um fundo de investimento americano, que assumiu as dívidas do clube e deu início à sua retomada.
Ter ficado tantos anos sem ser protagonista na Europa talvez tenha causado uma certa amnésia em algumas pessoas a respeito do tamanho do Milan e o que esse clube representa no futebol. Beira o inimaginável pensar que um time que já teve craques como Maldini, Pirlo, Gattuso, Seedorf, Ronaldinho, Kaká, Van Basten e tantos outros, tenha passado quase uma década sendo meramente coadjuvante no futebol europeu. Alias, entre tantas estrelas que já vestiram a pesadíssima camisa vermelha e preta do Milan, uma delas certamente ficará no coração e na memória dos torcedores rossoneros como grande herói na volta desse gigante. Zlatan Ibrahimovic é o nome dele.
A história de Ibra no futebol, por si só, já é recheada. Teve sua primeira temporada notável no Ajax, e de lá brilhou por toda a Europa. Jogou inclusive pelos grandes rivais do Milan, Internazionale e Juventus, além de tantos outros gigantes da Europa como Manchester United, Barcelona e PSG, erguendo troféus em absolutamente todas as suas passagens. Curiosamente, esteve no Milan em seu último título italiano, em 2011, antes da crise. Oito anos depois, em 2019, retornou a Milão com o propósito de conquistar a Itália novamente, e finalmente conseguiu cumprir sua promessa. Aos 40 anos, além de ser artilheiro, vencedor e um craque mundial, Ibra foi, mais uma vez, protagonista.
Obviamente a conquista do Italiano não pode e nem deve ser depositada somente na conta do sueco. O processo de reestruturação do Milan não passou por nenhum atalho. Foram anos de planejamento, quitação de dívidas e montagem de um time, que pouco a pouco, se tornou competitivo e capaz de brigar novamente no topo. Além do elenco, o clube teve como um dos pilares Paolo Maldini, ídolo eterno do clube rossonero, como diretor de futebol, além dos destaques individuais de jogadores como Theo Hernandez, Rafael Leão e Giroud, somados ao ótimo trabalho do treinador Stefano Pioli. Um processo a longo prazo, mas que foi coroado, merecidamente, com o sabor de campeão. Como disse Ibra após a conquista do campeonato, não é Milão que pertence ao Milan. A Itália pertence ao Milan.