Passados alguns dias depois da eliminação do Brasil na Copa do Mundo, vale uma reflexão dos fatores que culminaram nesse adeus precoce ao Catar. Era inegável que os comandados de Tite eram os favoritos para a conquista do título. Havia confiança, um grupo qualificado e um histórico todo a favor. Mas, no fim, nada disso foi suficiente.
O objetivo não é procurar um culpado. Todo mundo tem sua parcela. O time jogo com 11 em campo e com várias outras pessoas à volta. Vamos levantar alguns pontos que, talvez, poderiam ter permitido um resultado diferente.
A CONVOCAÇÃO
Para começar, o grupo convocado por Tite era de muita qualidade. Praticamente o que a Seleção Brasileira tinha de melhor à sua disposição. No entanto, o ponto de discussão maior foi a inclusão do veterano Daniel Alves.
Dani é um grande vencedor. Conquistou muitos títulos, principalmente em sua fase de Barcelona. Atualmente vinha em baixa, sem conseguir jogar e estava treinando com os reservas do clube catalão para manter a forma. Nunca foi uma opção de verdade na Copa do Mundo, nem mesmo quando o titular da posição se machucou ele foi, sequer, considerado.
Com esta convocação, Tite praticamente “queimou” uma opção melhor. E havíamos. Talvez não um jogador de nível mundial, mas algum atleta que poderia estar apto a jogar quando necessário.
ESQUEMA TÁTICO
Diferentemente de todo o ciclo pré-Copa, Tite utilizou um esquema diferente do que vinha jogando. Sempre atuou com dois volantes, com Fred sendo o mais usado ao lado do Casemiro. No jogo de estreia, Paquetá foi recuado para fazer esta função, abrindo vaga para os quatro atacantes, com Neymar centralizado atrás de Richarlison.
Este tipo de jogo foi eficiente na primeira fase, com seleções que focam seu jogo na defensiva. Assim, mais presença de ataque ajuda a abrir espaços. Sem contar que, com o time adversário atacando menos, apenar um volante de marcação (Casemiro) era suficiente.
No entanto, contra a Croácia, jogo da eliminação, ficou evidente desde o início que não daria certo. O técnico Zlatko Dalić prefere um jogo centrado no meio-campo, contado com atletas técnicos e fortes no setor. Brozovic e Kovacic atuando ao redor do maestro Modric. Desta forma eles tomaram conta do jogo. Mesmo que os croatas não atacassem com frequência, também não davam espaço ao Brasil, inclusive sobrecarregando Casemiro.
A entrada de um volante, voltando a atuar no 4-3-3 poderia ter sido uma opção interessante. Bruno Guimarães, Fred e Fabinho. Três boas opções, principalmente o terceiro, que foi muito subutilizado pelo técnico brasileiro.
LESÕES
O Brasil não foi o único país que sofreu com lesões, mas elas foram prejudiciais ao grupo. Tite acabou ficando sem os dois laterais esquerdos de origem. Claro, isso não é culpa dele, é uma fatalidade. Mas não deixa de ser um ponto que contribua com a eliminação.
Neymar, Danilo e Antony também chegaram a não ser opção em algumas partidas. E a recuperação, em um torneio de tiro curto, nunca é a melhor. Mesmo assim, os dois primeiros voltaram quando puderam e foram importantes na vitória nas oitavas de final.
Aliás, Danilo foi muito importante, já que precisou atuar do lado esquerdo por conta das ausências dos companheiros. O atleta até foi bem, já que tem costume de jogar de forma semelhante na Juventus, e isto foi um ponto positivo.
JOGADORES EM MÁ FASE
Nem todos os atletas chegaram bem ao Catar. Um exemplo foi do ponta Raphinha. Sem dúvida um dos pontos negativos nesta Copa. Jogador de muita qualidade, que saiu do Leeds para o Barcelona, foi titular em todos os jogos, mas não conseguiu jogar da mesma forma que encantou a todos em suas primeiras partidas com a camisa brasileira.
Contra a Croácia, a sua saída do time poderia ter ajudado a estabilizar o meio-campo, puxando Richarlison para o lado, com Neymar mais avançado.
O JOGO DA ELIMINAÇÃO
Dizendo de forma simples, a Croácia soube como jogar contra o Brasil. Controlou boa parte das ações, principalmente no meio, com o já destacamos. A equipe croata tem limitação no ataque. Falta-lhes um Mandzukic na referência, mas ainda assim tem outro atletas de muita qualidade, como o ponta Perisic, o zagueiro Gvardiol (jovem que tem tudo para ser a revelação desta Copa) e o goleiro “mágico” Livakovic, que foi fundamental quando o Brasil chegou no ataque.
No fim, o excesso de confiança acabou custando caro. Quando ganhando o jogo por 1×0, faltando pouquíssimos minutos para o fim da prorrogação, o time todo subiu para o ataque de forma desnecessária. O espaço que a Croácia queria.
E, nas penalidades, outro erro. Foi Rodrygo, jovem de 21 anos que abriu a série. Rodrygo é um excelente jogador. Apesar de jovem, já demonstrou do que é capaz no Real Madrid. Mas é uma Copa do Mundo, e caberia ao craque do time, Neymar, começar batendo, o que daria confiança aos seguintes. Rodrygo perdeu sua cobrança.
Enfim, é isso, Brasil eliminado e o sonho do hexa adiado novamente. Tite tem todos os méritos de seu trabalho ao longo dos anos, mas acabou pagando caro no momento que não podia mais falhar. Agora é esperar para ver quem será seu substituto e quais os caminhos que o levarão á Copa de 2026.