Na repescagem, portugueses e italianos venceram as duas últimas edições de Eurocopa e hoje veem a chance de jogar a Copa do Mundo ameaçada
No início da Eliminatórias, ninguém esperaria ver Portugal e Itália disputando repescagem para a Copa do Mundo no Catar. As duas seleções estão entre as mais fortes da atualidade, fato consolidado pelos recentes títulos dos dois países. Elencos fortes, com jogadores nos principais clubes do mundo, a expectativa era de que alcançassem a classificação sem sustos.
No lado de Portugal, o individual fala mais alto que o coletivo. A seleção possui um dos maiores jogadores da história, Cristiano Ronaldo, além de atletas de qualidade excepcional, como Bruno Fernandes, João Cancelo, João Félix entre outros. Na Itália, apesar de bons talentos individuais, como Jorginho, Federico Chiesa, Donnarumma e Insigne, a força do grupo comandada por Roberto Mancini era o ponto alto de suas atuações.
Mas então, por que Portugal e Itália não se classificaram na fase de grupos?
Sobre de Portugal
A Seleção Portuguesa tem figurado entre as grandes da Europa desde que voltaram a disputar uma Copa do Mundo, em 2002, contando, na época, com Rui Costa e Figo. De lá para cá, o “Lusos” foram subindo de patamar até alcançar o troféu da Eurocopa de 2016 e a Liga das Nações de 2018-19.
Acontece que, mesmo nas conquistas, Portugal poucas vezes apresentou um futebol envolvente e de imposição. Mesmo com um elenco superior à vários outros países, mais de uma vezes passaram dificuldades diante de adversários mais fracos.
Cristiano Ronaldo é o líder dentro de campo. Um dos maiores jogadores da história, e entre os melhores da atualidade, por vezes salvou o time de um vexame. Tem ao seu redor talentos diversos, mas é difícil vê-los atuar como um time coerente. E muito se cai na forma de trabalhar do técnico Fernando Santos.
Santos é conhecido por gostar de que suas equipes atuem mais defensivamente. Linha dura, não se importa em jogar feio. Prefere atuar sem ter a bola, buscando mais reagir às ações dos adversários. No cargo desde 2014, no início, quando Portugal ainda buscava se consolidar no hall das grandes seleções, este modelo surtia efeito (e foi assim que conquistou a Eurocopa). Mas hoje não ajuda muito mais. A forma de trabalhar de Fernando Santos parece estagnada e retrógrada. Portugal tem muito talento criativo, com jogadores que sabem impor ritmo de jogo. E isso deveria ser explorado.
Analisando as Eliminatórias, Portugal não tinha um grupo muito complicado. Seu principal adversário era a Sérvia, seleção que acabou em primeiro lugar e vaga direta. Em oito partidas, a equipe venceu 5, com 2 empates e 1 derrota. Podemos dizer que Portugal teve um pouco de azar, pois não foram resultados ruins. No entanto, foi exatamente contra os Sérvios, em casa, no último jogo, que os portugueses precisavam demonstrar que eram uma seleção de ponta. E não conseguiram. No penúltimo jogo, frente à Irlanda em Dublin, o time ficou no 0x0 sem apresentar muito perigo ao adversário. No jogo final, foi a Sérvia que impôs o jogo, mesmo atuando em Lisboa.
O time saiu na frente logo aos 2 minutos com Renato Sanchez. Depois sofreu muita pressão e concedeu o empate aos 33 anos, com Tadic. O segundo tempo foi da mesma forma, com os sérvios impondo o jogo. Portugal atuou de forma reativa, sem pressionar e, mesmo quando o fazia, não finalizava bem. No fim do jogo, Mitrovic conseguiu a virada e a classificação.
A imprensa e torcida portuguesa já não anda muito feliz com Fernando Santos e a forma como comanda a seleção. Agora terão a repescagem para tentar mudar isso.
Sobre a Itália
Do lado italiano, a pressão para jogar a próxima Copa do Mundo é muito maior. E tudo isso por dois motivos: ficaram de fora da última edição, na Rússia, em fracasso histórico sob o comando Giampiero Ventura; e são os atuais campeões da Eurocopa. Caso não avancem na repescagem, será um balde de água fria nos torcedores italianos.
Roberto Mancini foi o técnico responsável por reconstruir a “Azzurra”. O fracasso nas Eliminatórias para a Copa de 2018, para uma Seleção tão tradicional (os italianos não deixavam de ir à Copa desde 58) foi vexatória. Mancini conseguiu mudar a imagem em pouco tempo. A Itália sempre foi considerada uma equipe de solidez defensiva, mas com o novo trinador, além deste fator, o time conseguiu ser exemplo de ataque com qualidade, com estratégias de saída de bola rápida e envolvente. O resultado foi a série mágica de vitórias seguidas e o título da Europa 2020.
Então, como esta seleção conseguiu falhar a classificação direta para a Copa do Mundo? Bem, é uma análise difícil de ser feita.
Os italianos também não tiveram um grupo muito complicado nas Eliminatórias, tendo na Suíça seu principal rival. Acontece que, exatamente diante dos suíços, não conseguiram bons resultados, com falhas individuais importantes nos dois jogos (pênaltis perdidos). Mas além disso, o time não conseguiu se impor em jogos que deveria ter vencido, como contra a Bulgária ou a Irlanda do Norte. Assim, obteve dois empates em que se esperava vitórias.
Após a conquista da Euro, o time pareceu mais relaxado (e até com certa razão), pois tiravam um peso dos últimos anos. Esse reflexo pode ter ido a campo, e os atletas não conseguiram manter o ritmo que tiveram até a competição continental.
Conclusão
Não basta ser favorito se não souber jogar como um. E isso cabe às duas seleções. É evidente que as coadjuvantes dos dois grupos (Servia e Suíça) jogaram com mais dedicação e empenho que a Portugal e Itália. Na verdade, sérvios e suíços sabia que o principal adversários em seus grupos eram estas seleções e, desta forma, traçaram estratégias para anular seus rivais e sair na frente na busca pela vaga.
Portanto, Sérvia e Suíça fizeram exatamente o que Portugal e Itália deveriam ter feito.
O que esperar agora?
A repescagem não será simples. Serão apenas três seleções classificadas de 10 restantes, com jogos únicos (se perder, está fora). Houve esta mudança para esta edição. Escócia, Rússia, Suécia, País de Gales, Polônia, Macedônia do Norte, Turquia, Ucrânia, Áustria e República Tcheca também estão na disputa.
O sorteio colocará as cabeças de chave no pote 1, contra as outras seleções. Quem vencer este primeiro duelo avança para novo sorteio e novos confrontos (e aí podemos ter Portugal contra Itália.
As seis seleções de melhores campanhas dentre os segundos colocados formam o Pote 1 e disputarão a semifinal em casa, em partida única.
Pote 1: Portugal, Itália, Escócia, Rússia, Suécia, País de Gales;
Pote 2: Turquia, Polônia, Macedônia do Norte, Ucrânia, Áustria, República Tcheca.
As duas seleções ainda têm chances de classificação, só dependem delas mesmas, mas não terão tarefa fácil.